REPORTAGENS


ESSE É O QUENTE VERANEIO

Construída para enfrentar o mais duro trabalho, a perua Chevrolet Veraneio - antiga C-1416 - é também um carro confortável. Faz mais de 140 quilômetros por hora e sabe justificar a gasolina que consome, transportando folgadamente seis pessoas e muita bagagem. O teste é de Expedito Marazzi; as fotos, de Roger Bester.

Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar

Em março de 1966, quando Quatro Rodas publicou o nosso teste com a perua Chevrolet C-1416, ela já era um excelente carro, embora ainda não tivesse nome: só recentemente foi batizada de Chevrolet Veraneio. E, daquela época para cá, várias mudanças estéticas foram feitas na perua, transformando-a no que é hoje: um veículo extremamente bem-acabado e funcional para o transporte de pessoas e cargas. Neste teste, está evidente o progresso atingido em cinco anos de fabricação ininterrupta.

Posição ao volante

Quarenta e cinco centímetros de diâmetro e quase seis voltas de batente a batente impressionam o novato que experimenta o volante da Veraneio. Além disso, o assento dianteiro muito alto contribui para dar a sensação de que estamos na ponte de comando de um navio. Mas, aos poucos, o motorista vai se adaptando às novas condições de operação, que são bastante favoráveis, tratando-se de um veículo tamanho-família, com dimensões internas e externas ultragenerosas.

A visibilidade é ótima. A direção é macia quando o carro está andando e precisa nas altas velocidades. Fica pesada apenas nas manobras tipo baliza. Os pedais suspensos bem colocados e fáceis de operar (não permitem o punta-tacco mas sim o inverso, calcanhar no freio e ponta do pé no acelerador). A alavanca do câmbio de três marchas sincronizadas, na coluna da direção, é um pouco dura. Mas as posições de marchas são bem definidas. A buzina é excepcional e os faróis são muito bons. Os limpadores de duas velocidades funcionam otimamente e o lavador tem bastante pressão.

O painel de instrumentos é bem legível e totalmente diverso do que equipava o modelo 1966 que testamos anteriormente. Dois grandes mostradores circulares facilitam a consulta. Uma observação: um motorista de pequena estatura terá dificuldade - eventualmente - para enxergar por cima do grande volante. Terá de fazê-lo através do espaço livre entre o volante e o painel.

A carroçaria é bastante bem acabada para um utilitário, os cromados são ótimos, a pintura brilhante, o estofamento macio e bom, também os tapetes de borracha. As portas são firmes quando fecham e barulhos de carroçaria não surgem facilmente. Mas fechar as portas exige muita força e as fechaduras são difíceis de manejar. Aliás, se a GM adotasse apenas uma chave para todas as fechaduras teria muito mais facilidade para operar as portas, o porta-luvas e tampão de gasolina.

Capacidade de transporte

O aspecto de "carrão" da Veraneio não é desmentido pela sua capacidade de transportar coisas e pessoas. Seis adultos cabem nela folgadamente, com a bagagem que lhes for necessário transportar. Ou, se quiserem transportar apenas carga, basta rebater o banco traseiro e respectivo encosto (operação facílima sem travas nem borboletas) e uma ampla superfície fica à disposição. O único reparo a ser feito: a porta traseira poderia ser maior, porque rouba um pouco da área útil quando se quer transportar cargas volumosas, que não passam por ela mas caberiam no espaço útil interno.

As condições de conforto para quem viaja são muito boas. A suspensão macia absorve os choques nas piores ruas e estradas e a ventilação interna é eficiente. Além de tudo, o motor é capaz de "morrer" a perua com facilidade, permitindo velocidades médias elevadas.

O pior problema que o dono da Veraneio tem de enfrentar é seu tamanho. Não é só o espaço para estacionamento de automóveis que fica apertado para ela: portas de garagens residenciais, portões de casas, feitos para automóvel comum dificultam (embora não impeçam) estacionar a Veraneio.

Mecânica

O motor de 4.200 cc que equipa a Veraneio é o mesmo do caminhão e da pickup brasileiros. Trata-se do motor conhecido como Chevrolet Brasil e é de concepção mais ou menos antiga: é uma versão - totalmente evoluída, é claro - do motor de 6 cilindros em linha que foi lançado no mercado pelo modelo Ramona de 1929 e logo se tornou o esteio da marca.

Em 1953, esse motor recebeu lubrificação forçada e foi redesenhado, tendo continuado até 1960 em produção nos EUA. Depois disso, foi substituído pelo motor de sete mancais, que equipa hoje o Opala 6 cilindros no Brasil.

Mas as características do motor 4.200 são excelentes ainda: sua curva de torque é bastante plana, proporcionando tração suficiente mesmo em rotações relativamente baixas. Dentro da faixa de utilização normal, é ultramacio, isento de vibrações e - além disso - tem longevidade garantida. A carroçaria da Veraneio, entretanto, é bastante pesada: cerca de 2 toneladas, em condições de marcha. De forma que o trabalho dos 149 cavalos do motor não é dos mais fáceis. Houve, inclusive, um aumento na relação da segunda marcha, a fim de permitir melhores acelerações ao veículo - o que de fato constatamos em relação ao modelo 1966 -, embora com isso a segunda acabe logo: pouco mais de 80 km/h é o seu limite.

A suspensão é clássica e, por isso mesmo, funciona bem: molas helicoidais e rodas independentes na dianteira e eixo semiflutuante na traseira. Com amortecedores telescópicos, é claro. Os freios de tambor, comandados hidraulicamente. O freio de estacionamento mecânico atua nas traseiras.

Tração positiva

Há uma particularidade no diferencial do carro que testamos: trata-se do dispositivo que a GM chama de tração positiva. Como se sabe, o diferencial convencional permite que as rodas motrizes tenham suas rotações diferenciadas em relação ao caminho maior que a externa deve percorrer e o caminho menor percorrido pela roda intena. Sem isso, uma delas patinaria por excesso de rotações e a outra ficaria freada por falta. Entretanto, devido à forma como funcionam os diferenciais, se uma das rodas perder aderência com o solo, todo o movimento passará a se escoar por ela, enquanto a outra fica parada. Se o leitor duvida, levante apenas uma das rodas motrizes de seu carro e verá que apenas a roda levantada gira. Ora, com isso, é possível encalhar numa poça de lama que envolva apenas uma das rodas motrizes. Numa curva feita próximo ao limite de aderência, a roda interna é que recebe a ação do motor, dificultando a trajetória correta, devido à transferência de peso lateral.

Para resolver tais problemas, criou-se um tipo de eixo traseiro diverso do diferencial, chamado de autoblocante. Ele impede que uma das rodas dispare enquanto a outra fica parada. E é usado nos carros de competição para corrigir a dificuldade descrita nas curvas. Todavia, é um sistema que não age sempre como diferencial e cujos atritos internos são terríveis, exigindo materiais de alto custo para ser fabricado.

A GM emprega o diferencial normal, porém acompanhado de um sistema travante automático, impedindo que as rotações de uma roda motriz sejam muito superiores às da outra, quando se enfrenta, por exemplo, um lamaçal. Não é um sistema autoblocante, mas um freio que age automaticamente por diferença centrífuga de rotações. Assim, nunca é possível uma das rodas (a que perdeu aderência) girar loucamente enquanto a outra permanece estática, sem tração proporcional.

Até aqui, teoricamente, tudo bem. Mas experimentando a Veraneio, equipada com a opção denominada tração positiva, com uma roda na lama e outra no asfalto, achamos que sua ação é muito pequena. Ou seja, a roda que perde aderência gira não totalmente solta, mas quase, enquanto a roda em contato com o solo gira muito devagar. O carro acaba saindo do atoleiro, mas perde uma quantidade considerável de borracha do pneu encalhado. Preferiríamos que a ação do dispositivo fosse maior, mais nítida. Em outras palavras, que a diferença de rotações permitida pelo dispositivo entre as duas rodas motrizes não fosse tão grande, o que facilitaria - sem dúvida - o seu funcionamento e justificaria o acréscimo de preço opcional.

Desempenho

Nas provas a que submetemos a Veraneio, o seu desempenho foi muito bom, não mostrando nenhum defeito adquirido que pudéssemos anotar, o que revela a qualidade de sua construção. Uma exceção: quando operado por mãos inexperientes, o trambulador da alavanca de câmbio encavala, embora seja facilmente corrigível fazendo-se leve pressão sobre ele (sob o capô, na coluna de direção).

O velocímetro de escala circular é facilmente legível e seu ponteiro é bastante firme. Os erros ficaram na faixa aceitável: o máximo é de 7,3 por cento a 40 quilômetros por hora indicados. O odômetro marca até centenas de metros e seu erro médio foi de 1,2 por cento para mais, ou seja, ele marca 101,2 km para cada 100 km percorridos.

A velocidade máxima que obtivemos, média de quatro passageiros, foi de 142,37 km/h, enquanto que a da melhor passagem atingiu 144,44 km/h.

São níveis apreciáveis para um utilitário e podem ser usados sem problemas de falta de dirigibilidade ou superaquecimento do motor.

A aceleração é bastante boa, tendo em vista o enorme peso do veículo. Graças à segunda de relação curta, a aceleração da Veraneio é melhor do que a da perua testada em 1966 até os 80 km/h. Mas daí para a frente é aproximadamente a mesma.

Usamos nessas provas gasolina comum, comercial. Elas foram feitas em asfalto liso e seco, bastante regular, ao nível do mar e à temperatura ambiente média de 22 graus centígrados.

O consumo foi bastante constante nas diversas condições de uso: tanto na cidade, como na estrada, em baixas e altas velocidades, podemos considerar a faixa de consumo normal da Veraneio entre 4 e 5,5 quilômetros por litro, o que é alto mas coerente com o trabalho que ela é capaz de desenvolver. Em velocidades constantes, a perua testada agora está um pouco mais perdulária do que a C-1416 de 1966, mas a diferença é pequena.

Finalmente os freios, que conseguem parar o "carrão" em espaços bastante razoáveis, e que agora não apresentaram fading acentuado, como ocorria com o modelo 1966.

(..)

Conclusão

A Veraneio realmente presta excelentes serviços ao usuário que precisa, ao mesmo tempo, de transporte para pessoas e cargas. Para os donos de sítios, para os pescadores inveterados, para aqueles que tem família grande e viajam muito, ela é realmente indicada. Tem o desempenho de um carro de passeio veloz. Todavia, uma sugestão: para quem precisa apenas de um automóvel, se quiser permanecer com um carro GM, deve comprar um Opala, porque a Veraneio, quando usada na cidade, enfrenta o problema da falta de espaço em garagens e estacionamentos.

Fonte: Quatro Rodas, Nº 109, Agosto/1969
Reportagem gentilmente enviada por Eduardo Dantas

Voltar