REPORTAGENS | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Derivada do maior sucesso da General Motors, ela foi criada aqui mesmo, no Brasil. E chega para substituir a Chevy, apresentando muita estabilidade e uma nova motorização. Reportagem Ricardo Aretini; Fotos Pedro Rubens Criatividade. Com essa arma, a General Motors do Brasil - que já revolucionara a indústria nacional no início do ano passado, ao lançar o Corsa - amplia, outra vez, as opções do consumidor. Mais que isso: ao adaptar seu maior sucesso (um projeto originariamente alemão) para a versão picape, a montadora apresenta, por aqui, uma novidade absoluta, não existente em nenhuma outra parte do mundo. Sabe-se, por exemplo, que a Opel fabrica, na Europa, as versões 3 e 5 portas do Corsa, mais o furgão Combo. Mas a idéia de transformar o urbano nesse tipo de comercial leve é genuinamente brasileira. E remonta a 1992, ano da implementação do próprio projeto do automóvel no país. Já naquela época, a fábrica começava a estudar, paralelamente à versão hatchback, a possibilidade de criar derivados de seu novo popular. E nada mais natural que, com o tempo, esta acabasse sendo a solução encontrada para ocupar o lugar da Chevy. Uma picape baseada no Chevette, que, como sua fonte inspiradora (substituída pelo próprio Corsa), não mais apresentava condições de competir com as concorrentes. "A imagem da Chevy havia ficado muito vinculado à idéia de trabalho, deixando o lazer de lado", explica o gerente de Merchandising da General Motors, Frederico J. Themoteo Junior. Assim nasceu o Projeto 2020 Em março de 1992, a equipe do Centro Tecnológico da fábrica no Brasil já arregaçava as mangas. E um grupo de trinta designers dava início aos primeiros esboços do Projeto 2020 - código pelo qual a adaptação do Corsa em picape passaria a ser conhecida dentro da montadora. Uma vez tendo o projeto todo no papel, era hora de a Opel, subsidiária da General Motors na Alemanha, analisá-lo. "Não se tratava de uma aprovação", faz questão de ressaltar o gerente de Programas de Produto da GM no Brasil, o engenheiro Ladislaus Von Marton. "Acontece que existe, hoje, uma tendência unificadora, de se obter uma engenharia mundial. E, por isso, fomos ouvir as possíveis dicas que eles teriam para nos dar". Resultado: a picape agradou tanto lá fora que já nasceu, segundo a fábrica, com possibilidades de ser exportada. Em junho de 1993, ficava pronto o primeiro protótipo da picape Corsa, em fibra de vidro. Após ser avaliado aqui, ele percorreu países da Europa, os Estados Unidos e toda a América do Sul, a fim de receber as impressões desses diferentes mercados. Em fevereiro do ano passado, era apresentada a primeira picape em condições de rodar. A partir de março deste ano, começou a chamada pré-produção, fase em que o processo de fabricação é, enfim, analisado e ajustado. Lançada no início de junho, a picape Corsa foi um projeto que, entre a idéia e a comercialização, durou 39 meses. Aliar concepção esportiva e amplo espaço para o transporte de cargas foi seu principal objetivo. Plenamente alcançado: as linhas arredondadas transmitem a mesma sensação futurista da conhecida versão hatchback, de quem o veículo herdou a parte dianteira. Frente ao carro de passeio, a Picape Corsa é 424 mm mais comprida (mede 4.100 mm, com distância entre-eixos de 2.470 mm), 80 mm mais larga (com 1.290 mm) e 4 mm mais alta (com 1.490 mm). O acabamento interno, acarpetado, semelhante ao da versão GL 1.4, permitiu, em nossos testes, a aferição de um bom nível de ruído médio para uma picape, de 67,9 decibéis. Bem menos que os 70,2 dB, 71,2 dB e 72,5 dB apresentados por Saveiro, Fiorino e Pampa no comparativo publicado em setembro de 1991. As diferenças entre esse novo Corsa e os demais membros da família só começam, mesmo, a partir da caçamba, que apresenta volume de 945 litros e capacidade de carga de 575 kg, incluindo-se os pesos do motorista e do acompanhante. A traseira é mais larga, com pára-choques envolventes e o mesmo conjunto óptico do Corsa GL 1.4. A bitola traseira mede 1.427 mm, contra 1.388 do hatchback (a dianteira, com 1.387 mm, permanece igual). A picape também marca a estréia, no Brasil, de um novo motor, de 1598 cm3, a gasolina. Da família do 1.0 e do 1.4 que equipam o Corsa, ele apresenta concepção idêntica à dos utilizados pela Opel no Astra e no Vectra europeu. "O propulsor passou, apenas, por algumas regulagens, necessárias antes de ser utilizado por aqui", explica o engenheiro Ladislaus Von Marton. Apesar de estar sendo produzido na fábrica da General Motors em São José dos Campos (SP), possui alguns componentes importados, como o cabeçote. Por enquanto, será fabricado somente na versão 1.6, a gasolina. Futuramente, porém, existe a possibilidade de o veículo receber outras motorizações, e de a montadora produzir as versões 1.0 e a álcool na linha. Equilíbrio, só no consumo Posicionado transversalmente, esse motor possui 4 cilindros em linha e 8 válvulas. Alimentado por injeção eletrônica single-point, desenvolve potência de 79 cv a 5.400 rpm e torque de 12,8 kgfm a 3.000 rpm. Na pista, porém, não confirmou as expectativas de alcançar um desempenho superior a tudo que já havia aparecido em termos de picape no país. Os 155,3 km/h de velocidade máxima, 13s53 para acelerar de 0 a 100 km/h e 25s74 na retomada de 40 a 100 km/h foram ainda insuficientes para bater, por exemplo, a performance da Fiorino LX 1.6. Afinal, em um comparativo que envolveu as derivadas das quatro montadoras (ela própria, mais Saveiro, Pampa e a extinta Chevy), em setembro de 1991, essa Fiat já alcançara resultados bem melhores em todas as provas de desempenho: 156,4 km/h de velocidade máxima; 13s29 na aceleração de 0 a 100 km/h; e 22s34 na retomada de 40 a 100 km/h. O equilíbrio entre as duas rivais só se deu em consumo. Na cidade, ainda levando-se em conta a avaliação da Fiorino, em 1991, a derivada do Corsa mostra-se mais econômica (com 11,88 km/l contra 10,51 km/l). Mas, na estrada, rodando vazias, a vantagem volta a ser da picape Fiat (15,76 km/l a 14,53 km/l). Uma boa explicação para tais resultados encontra-se na relação peso/potência de ambas, favorável à Fiorino (10,71 kg/cv a 12,17 kg/cv vazias e 18,09 kg/cv a 19,45 kg/cv, carregadas). Mas tudo que fica a dever em performance e economia a Picape Corsa compensa em estabilidade e segurança. Como veículo destinado ao transporte de cargas, é natural que tenha passado por alterações específicas na parte mecânica. Para tal, os engenheiros da GM se inspiraram no Combo, o furgão da família, vendido na Espanha. Assim, a suspensão dianteira mantém-se similar à do modelo hatchback, mas com calibração adequada a uma picape. Já a suspensão traseira passou a ser composta por molas semi-elípticas e amortecedores telescópicos hidráulicos suplementares, para melhor suportar o peso de cargas. Como resultado disso, o veículo alcançou o ponto ideal entre firmeza e conforto, embora, nas curvas, sua tendência seja a de sair de traseira (de resto, uma característica de toda picape, onde o motor, invariavelmente localizado na parte dianteira, desiquilibra o peso). Isso, porém, em nada afetou a atuação em aderência lateral. Com pneus e rodas bem dimensionados, chegou a 0,92g. Marca idêntica à do Corsa GSi 16V, que lhe confere o segundo lugar no "Ranking" dos nacionais de QUATRO RODAS em aceleração lateral, atrás somente do 0,95g otbido pelo Gol GTI 2.0. Os freios dianteiros são a disco, ventilados. Na traseira, o carro conta com tambor auto-ajustável e válvula equalizadora de ação. Isso significa que o freio exerce eficiência proporcional ao peso da carga, garantindo maior segurança. A distância até a parada total (30,46 m), vindo a 80 km/h, foi satisfatória para um carro de sua categoria. As picapes derivadas de automóveis representam, atualmente, 34% do mercado de veículos comerciais no Brasil, o equivalente a 68.830 unidades vendidas (no atacado) em 1994. Um segmento no qual a participação da GM vinha caindo. Fora de produção desde abril, a Chevy (lançada em outubro de 1983) vendeu 301 unidades nos quatro primeiros meses de 1995. Quase nada, diante dos números da concorrência. A partir dessa substituição, a GM não esconde a intenção de ampliar ainda mais a gama de produtos derivados do Corsa. "Ele será, futuramente, a maior família da General Motors", profetiza o gerente de Marketing e Administração Frederico Themoteo, preparando o consumidor para novas versões da "galinha dos ovos de ouro" da marca.
Fonte: Quatro Rodas, Ano 35, Nº 419, Junho/1995 |
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