REPORTAGENS


PICAPES: QUATRO OPÇÕES PARA DRIBLAR O COMPULSÓRIO

Colocamos lado a lado, num teste comparativo, as quatro alternativas mais baratas para quem não precisa mais do que dois lugares num carro: as picapes Chevy, City, Pampa e Saveiro. Elas reúnem as vantagens dos automóveis dos quais são derivadas - e ainda por cima estão livres do compulsório.

Reportagem de Douglas Mendonça / Fotos de Claudio Larangeira

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Ao lado dos bons serviços que as picapes já prestavam na cidade e no campo, surgiu um outro motivo capaz de levar muita gente a se interessar por elas: isentas pelo governo do empréstimo compulsório, de 30% na compra dos carros novos, de uma hora para outra elas ficaram ainda mais baratas que os automóveis dos quais derivam. Podem ser a solução, por exemplo, para um casal sem filhos, ou mesmo vir a ser utilizadas como condução para ir e voltar do trabalho. É só não se incomodar de perder o banco traseiro e, em troca, ganhar uma caçamba com espaço até demais para muitas coisas.

Se você se sentir tentado, aqui estão as quatro reunidas, exatamente como fizemos há pouco mais de dois anos. De lá para cá, a que mais mudou foi a Saveiro, que trocou o motor refrigerado a ar pelo novo AP-600, refrigerado a água. Isso foi o suficiente, porém, para que se rompesse o equilíbrio verificado no comparativo anterior: a Saveiro SL desta vez andou mais que as adversários e gastou menos álcool. Confira agora, item por item, como se comportou cada uma e descubra por que a Chevy 500, a City e a Pampa podem também ser uma boa opção.

Desempenho

A Saveiro ganha longe, não deve nada para um carro.

O desempenho da Saveiro, em todas as avaliações, foi esmagadoramente superior ao das demais picapes. Suas marcas são dignas de um bom carro de passeio, com aceleração de 0 a 100 km/h abaixo dos 12 segundos e velocidade máxima ao redor dos 160 km/h. A Chevy melhorou um pouco suas marcas de aceleração com relação ao último modelo testado, mas em contrapartida houve uma ligeira queda na velocidade máxima. A Pampa, mesmo com o motor E-Max, não mostrou nada de novo - seu desempenho foi semelhante ao da última avaliação. A City também praticamente repetiu os resultados do último teste, certamente em virtude da inxistência de modificações.

Consumo

Mesmo com quatro marchas, a Saveiro é a que gasta menos.

Novamente o destaque é para a Saveiro. Seu consumo, em todas as condições de avaliação, foi ligeiramente menor que o das concorrentes, sendo a única equipada com câmbio de quatro marchas - se pudesse contar com o câmbio de cinco marchas que equipa a Parati, essa vantagem seria ainda maior. A Pampa foi a que mais sentiu o peso da carga: de 11,40 km/l vazia, diminuiu para 9,91 km/l com carga máxima, uma piora de 13%, apesar dos 30 kg de carga que transporta a mais que as outras. Tanto a City quanto a Chevy apresentaram resultados médios, lembrando que a Chevy leva 70 kg a menos de carga que as outras, e 100 kg a menos que a Pampa.

Motor

O da Saveiro é o mais moderno. O da Chevy vai mudar.

O motor mais moderno entre os quatro é o AP-600, que começou a equipar a Saveiro a partir do modelo 86. Lançado há cerca de três anos na Europa, mostrou-se mais potente e econômico que os demais. O CHT E-Max da Pampa, mesmo com anéis mais finos e pistões, virabrequim e volante mais leve, para melhora do rendimento mecânico, não chegou a apresentar variações, nem no desempenho nem no consumo. A Chevy é ainda equipada com motor 1.6 a álcool, lançado nos Chevette 83, mas em breve virá com novo motor, desenvolvido a partir do atual, mas com 9 cv a mais. O motor 1300 da City é moderno - é o mesmo de 1300 cm3 que equipa a linha Uno.

Câmbio

Na City, o problema dos Fiat: é difícil engatar 1ª e 2ª.

A Saveiro é a única equipada com câmbio de quatro marchas. Nos outros modelos, a quinta marcha foi importante para, principalmente, conter os índices de ruído nas velocidades mais altas, além de também contribuir para um menor consumo de combustível na maioria das condições de utilização. Na Pampa, apesar de um pouco ruidoso, o câmbio tem engates fáceis. Além disso, ela é a única a oferecer tração nas quatro rodas. A Chevy mostra um câmbio robusto e é a única a apresentar tração traseira, uma vantagem em alguns tipos de utilização. Na City, sente-se, algumas vezes, dificuldades no engate da 1ª e 2ª marchas, um antigo problema dos Fiat.

Freios

A Pampa demora mais a parar. A melhor é a Saveiro.

Das quatro picapes, apenas a Saveiro recebeu modificações no freio desde nosso último teste. As principais mudanças foram no servofreio, com o objetivo de diminuir o esforço do motorista no pedal e nas pinças e pastilhas. Assim, passaram a ser usadas pastilhas maiores - semelhantes às do Gol GT e às da linha Santana/Quantum -, fabricadas com material que permite melhor desempenho com menor desgaste. Na Pampa, os resultados ficaram aquém dos números apresentados pelas outras três picapes. Chevy e City igualaram-se no teste de freios, sendo que a Chevy exigiu um pouco menos de esforço no pedal até a parada total.

Direção

Aqui, muito equilíbrio. Mas a Chevy exige menos esforço.

A Pampa é o modelo em que a tração dianteira mais se fez sentir nas curvas em aceleração. Mas nem por isso sua direção deixa de ser precisa, apesar de um pouco pesada em algumas condições de utilização. A Pampa tem, porém, a opção de direção hidráulica. A Saveiro e a City, apesar de possuírem tração dianteira, como a Pampa, não deixam que o motorista perceba essa característica, comportando-se de maneira suave em qualquer condição. A Chevy, que tem tração traseira, por isso mesmo é a que conta com um sistema de direção menos comprometido: as rodas dianteiras, por terem um menor acúmulo de funções, exigem menos esforço na direção.

Estabilidade

Todas são boas, mas a Saveiro destaca-se outra vez.

Este é um ponto a ser destacado em todos os modelos, apesar de algumas ressalvas. Na City, a suspensão traseira faz com que a traseira pule em demasia quando se trafega sem carga em pisos irregulares. Da mesma forma, a Pampa levanta bastante a roda traseira interna da curva quando está vazia - uma característica de sua suspensão de eixo rígido e feixe de molas. Apesar do eixo rígido na traseira com molas helicoidais, a Chevy comporta-se tão bem como um Chevette. O destaque nesse item volta a ser da Saveiro: seu comportamento se assemelha tanto ao de um automóvel que se chega a esquecer que se está dirigindo uma picape.

Suspensão

As quatro iguais: a robustez não compromete.

Um item fundamental para as picapes é a robustez do sistema de suspensão - que, nem por isso, poderá comprometer o binômio conforto/estabilidade. A Pampa teve sua parte traseira completamente reformulada com relação à Belina, de onde foi derivada. O eixo traseiro teve as molas helicoidas substituídas por resistentes feixes de molas. Nos outros modelos, houve apenas um redimensionamento de componentes, visando às condições de utilização características de uma picape. Assim, na City, a suspensão é independente da traseira. Na Saveiro, é semi-independente. E, na Chevy, tem eixo rígio com molas helicoidais.

Estilo

Na parte da frente, não há diferença dos automóveis.

Semelhantes em quase tudo aos modelos dos quais foram derivadas, as picapes possuem um estilo característico da porta para trás. A City deverá, em breve, juntar-se à família Uno - talvez até mesmo com outro nome, mas guardando suas principais características mecânicas. Seu estilo deverá, aí, sim, tornar-se mais moderno. A Pampa, por sua vez, guarda as principais características da Belina, com uma aparência um pouco pesada, mas vendendo uma imagem de robustez. A Chevy e, principalmente, a Saveiro têm uma aparência mais delicada - talvez por isso sejam as preferidas no uso diário. As duas, porém, também brevemente terão mudanças na dianteira.

Conforto

Depende dos opcionais. E aqui a vantagem é da Chevy.

Embora teoricamente destinadas ao transporte de pequenas cargas, as quatro picapes que testamos eram os modelos mais luxuosos da linha, adequadas àqueles que precisam ou gostam de picapes, mas não abdicam do conforto de um carro. Nesse ponto, a Pampa tem disponível a direção hidráulica, mas a Chevy é a que mais pode oferecer: desde a transmissão automática até o ar-condicionado - um item a ser considerado em regiões muito quentes. À exceção da City, todas também ofereciam vidros verdes. As quatro tinham ventilação forçada. Seus bancos, finalmente, permitiam ampla gama de regulagem do assento e do encosto, e bom espaço interno para duas pessoas.

Posição de dirigir

Na Pampa, problemas para quem tem mais de 1,80 m.

Na City, a colocação quase horizontal do volante de direção obriga o motorista a uma posição mais ereta, em comparação com as outras três picapes - o que resulta num aumento de visibilidade da representante da Fiat. Na Pampa, há um ponto crítico: motoristas com mais de 1,80 m de altura, mesmo colocando o assento todo para trás, são obrigados a dirigir com as pernas semi-abertas - um incômodo em viagens longas. Tanto na Saveiro quanto na Chevy, esse problema não existe: mesmo as pessoas altas podem encontrar a melhor posição de dirigir, graças ao grande curso do assento nos trilhos e ao bom espaço para a regulagem do encosto - quase como um carro.

Instrumentos

O ponto fraco de todas. Na City, falta um termômetro.

Mesmo sem contar com nenhum item de sofisticação, os painéis dos carros testados, de maneira geral, não ficaram em desacordo com o que normalmente se espera de um carro rústico como uma picape - ou seja, muito pouco. A exceção, para pior, ficou por conta da City, que poderia contar com um termômetro indicativo em vez de uma simples luz testemunha. Esse instrumento é fundamental nas regiões mais quentes, onde o motorista se veja obrigado a trafegar constantemente com carga. Nas regiões frias, a falta do termômetro também causa inconveniente: nunca se pode saber com exatidão quando o motor começa a esquentar para dirigir normalmente, sem o afogador.

Visibilidade

Na Pampa, retrovisores externos mais apropriados.

Em condições de carga baixa ou vazia, todas as picapes apresentaram boa visibilidade para trás e para os lados. Destaque especial deve ser dado aos espelhos retrovisores externos da Pampa, bem mais adequados a uma picape, por suas dimensões e pelo tipo de suporte utilizado. Mesmo com carga alta, em situação que anule a eficácia do retrovisor interno, o motorista da Pampa não terá dificuldades em dirigir apenas com os espelhos externos. Eles também atenuam a falta de visibilidade lateral à esquerda do motorista, causada principalmente pela posição do estepe, na caçamba. Na Chevy e na Saveiro, o estepe vai atrás dos bancos, e, na City, no compartimento do motor.

Nível de ruído

Todas são barulhentas - a Pampa, menos que as outras.

Apesar de o isolamento acústico não ser considerado um item fundamental em um utilitário, quanto menos ruidoso for o carro, melhor para o usuário. Nesse particular, a Pampa destacou-se das demais picapes, obtendo o menor índice de ruídos, com nota 4. A Saveiro, mesmo equipada com câmbio de quatro marchas, que acaba tornando o motor mais barulhento nas altas velocidades, conseguiu o segundo lugar, obtendo nota 3. Tanto a City quanto a Chevy tiveram um índice de ruído muito alto, mesmo ambas sendo equipadas com câmbio de cinco marchas, que tende a minimizar o ruído em altas velocidades. A nota 2 comprova o altíssimo nível de ruído das duas.

Carga: tamanho não é documento

Para avaliar o volume de carga de picapes, Quatro Rodas utiliza um critério diferente do usado para automóveis. É o mesmo critério das peruas, apenas diferenciando-se por levar em consideração, no cálculo do volume útil, a altura interna da caçamba, até a borda das laterais. Isso, aliás, faz com que picapes com superfície de carga praticamente igual tenham capacidades - e, conseqüentemente, notas - diferentes. É o caso, por exemplo, da City, que tem uma superfície de 1,70 m2, e da Chevy, com 1,78 m2. Como a altura até a borda das laterais é de 51 cm na City e de 43 cm na Chevy, a capacidade final da City é de 825 litros, contra 765 litros da Chevy.

A altura das laterais, aliás, varia em cada caso: dos 40 cm da Pampa, passa-se aos 43 cm da Chevy, aos 46 cm da Saveiro e chega-se aos 51 cm da City. Naturalmente, todas as quatro picapes podem ser equipadas com tetos rígidos, de fibra, aumentando então o volume disponível para carga. Os modelos de tetos existentes no mercado são vários, mas a utilização do espaço disponível não poderá deixar de levar em conta o peso específico do material a ser transportado, pois cada picape tem um limite de carga. O da Pampa é de 530 kg; o da City e da Saveiro empatam em 500 kg; e o da Chevy é de 430 kg - em todos os casos já foi descontado o peso do motorista, calculado em 70 quilos. Um motorista mais gordo, portanto, reduzirá um pouco essa capacidade.

Ágio à vista

A Fiat foi a pioneira, em 1980, no lançamento no Brasil de uma picape derivada de carro de passeio - a City. Dois anos depois, surgiram, pela ordem, a Pampa, da Ford, a Saveiro, da Volkswagen, e a Chevy, da GM. A mais vendida, apesar de mais cara, sempre foi a Pampa: de janeiro a julho deste ano, 9.461 unidades. Depois vem a Saveiro, com 8.861 unidades no mesmo período. A City, a única com exportações regulares, vendeu 5.633 unidades no mercado interno nesses sete meses e exportou outras 1.112. Por último vem a Chevy, com 4.614 vendas de janeiro a julho.

Agora, mais do que nunca, a tendência é de esses números crescerem. Mas há um problema: mais do que no caso dos automóveis, a fila de espera por essas picapes está enorme. Passa dos 10 meses em algumas concessionárias, e não há previsão de quando a produção poderá ser aumentada para atender à procura. Até lá, a pista ficará livre para o ágio.

Examine bem cada uma

  CHEVY CITY PAMPA SAVEIRO
Tração Traseira Dianteira Dianteira Dianteira
Cilindros 4 4 4 4
cm3 1.599 1.297,4 1.555 1.596
cv/rpm 72/5.600 59,7/5.200 75,1/5.000 85/5.600
mkgf/rpm 12,3/3.200 10,0/2.600 13,2/2.400 12,6/3.000
Marchas 5 5 5 4
Comprimento (cm) 418,3 387,9 439,0 406,0
Largura (cm) 157,0 154,5 167,0 162,2
Altura Solo (cm) 14,0 15,0 15,0 15,0
Tanque (l) 62 52 76 55
Caçamba (l) 765 825 840 870
Carga útil (kg) 500 570 600 570
Peso (kg) 980 808 1018 890
Velocidade máxima (km/h) 139,6 133,8 139,6 158,6
0-80 km/h (s) 10,17 10,49 10,98 7,95
0-100 km/h (s) 16,28 17,81 17,21 11,80
0-120 km/h (s) 26,44 31,60 28,97 18,73
40-80 km/h (s) 18,11 17,68 22,43 11,40
40-100 km/h (s) 29,68 29,32 34,87 17,33
40-120 km/h (s) 44,06 46,16 - 24,62
Consumo cidade (km/l) 9,07 9,34 9,34 9,48
Consumo estrada (km/l) 11,51 11,80 11,40 11,91
Consumo carregada (km/l) 10,54 10,57 9,91 10,59
dB (ponto morto) 46,4 52,7 48,6 44,4
dB (80 km/h) 75,8 76,4 71,8 72,9
dB (110 km/h) 76,2 78,9 74,3 76,6
dB (120 km/h) 77,1 80,8 77,7 78,5
Freio, 80 km/h (m) 32,3 31,7 31,3 31,7
Freio, 100 km/h (m) 53,1 50,3 49,9 46,8
Freio, 120 km/h (m) 75,0 65,4 73,3 65,4
Fabricante GM Fiat Ford VW

Fonte: Quatro Rodas, Ano 26, Nº 315, Outubro/1986
Reportagem gentilmente enviada por Fernando Figueiredo.

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