REPORTAGENS


NOTA DEZ APENAS NA ESTRADA

Reportagem Wilson Toume, Fotos Germano Lüders, Edição Fátima Cardoso

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A proposta das picapes é ser um carro jovem, que junte o conforto do automóvel convencional com a capacidade de carga do utilitário. QUATRO RODAS fez o tira-teima entre as duas picapes médias mais vendidas: Ranger XL, a importada da Ford, e S10 De Luxe 2.2, da Chevrolet. Descobrimos que, na estrada, missão cumprida. Na cidade, nem tanto. Confira nas próximas páginas quem venceu esse pega de comodidade e desempenho.

Na estrada, onde essas picapes nasceram para rodar, a Chevrolet S10 a Ford Ranger mostram suas principais virtudes: com boa capacidade de carga (aqui a S10 leva vantagem: 750 kg contra 650 kg da Ranger), ambas se sentem "à vontade", principalmente em velocidade de cruzeiro. Nessas condições, o motorista pode desfrutar do silêncio e do conforto que elas propiciam, além da estabilidade e da maciez ao rodar.

A Ranger, no entanto, sai vencedora neste round. Graças ao seu motor V6 de 4,0 litros, capaz de gerar 162 cavalos de potência, ela proporciona muito mais prazer de condução que a S10, já que, além de ser mais veloz, permite retomadas mais rápidas. Essa agilidade faz falta no modelo da General Motors, equipado com motor de 2,2 litros, que produz 106 cv de potência. Nela, são necessárias mais trocas de marcha em ultrapassagens que na rival.

O aspecto negativo fica por conta da falta de espaço para levar bagagens. A menos que seja instalada uma cobertura na caçamba, não é possível viajarem duas pessoas com suas malas para um final de semana a bordo de qualquer uma das picapes. Isto ainda é pior na Ranger, que não conta sequer com ganchos para fixação de objetos.

É preciso apenas lembrar que, embora tenha comportamento bastante parecido com o de carros comuns (principalmente na estrada), é necessário estar atento na hora de fazer curvas. Como seus centros de gravidade são mais elevados do que o de um automóvel, as picapes têm reações diferentes nessas situações. São menos estáveis, e não passam a sensação de que estão "grudadas" no chão. Sem falar, é claro, das suspensões. Sobre pisos regulares, é preciso acostumar-se apenas com a altura e a inclinação da carroceria. Já sobre o asfalto irregular ou esburacado, a atenção deve ser maior, pois a traseira pode pular, dificultando o controle do carro.

No dia-a-dia, embora as picapes sejam confortáveis, não se pode dizer que conduzir um desses modelos no trânsito das metrópoles seja uma delícia. Por causa do tamanho, é difícil tanto para a S10 quanto para a Ranger vencer os congestionamentos e encontrar vagas nas garagens apertadas de prédios e shoppings, apesar de contarem com ótimos retrovisores e bom campo de visão.

Não é mesmo boa idéia ir às compras com uma dessas duas. Além da dificuldade em manobrá-las, não existe lugar para acomodar pacotes ou sacolas, já que o espaço atrás dos bancos é mínimo. A solução é ir sem companhia e botar as compras no chão ou no banco do passageiro.

Rodando, elas têm comportamento diferente. Enquanto a S10 apresenta um temperamento dócil - até me demasia - a Ranger precisa ser "domesticada". O motor V6 parece até exagero para seu tamanho. Assim, o motorista desacostumado vai se surpreender "fritando" os pneus involuntariamente ao avançar nos cruzamentos ou em saídas de semáforos.

Em aclives com piso irregular e a caçamba vazia, a situação piora, já que, com o peso concentrado na dianteira, a traseira leve salta muito, dificultando o tracionamento. A Ranger sobe ladeiras esburacadas, literalmente, aos pulos.

Na S10, ocorre o contrário. Ela sente falta de mais força no motor para vencer subidas com tranqüilidade. Além disso, o acelerador possui curso muito longo, o que contribui para a impressão de "falta de fôlego". Para conseguir subir ladeiras com a picape da Chevrolet, é preciso pisar fundo.

A posição de dirigir, mais elevada, assim como as dimensões das duas, também têm o seu lado positivo na cidade: a possibilidade de antever situações adversas e o respeito que ambas impõem diante de motoristas mal-educados.

Em matéria de conforto, tanto a Ranger quanto a S10 não decepcionam, oferecendo os mesmos itens que automóveis convencionais, como ar-condicionado e direção hidráulica. Nos equipamentos disponíveis, o modelo da Chevrolet dá uma goleada: só ela tem janelas, travas e retrovisores acionados por comando elétrico, além de vidro traseiro corrediço e faróis auxiliares de neblina. Já a Ranger oferece, entre os itens de série, air-bag para o motorista e freios com sistema ABS nas quatro rodas. Trio elétrico (vidro, retrovisores e portas) e toca-fitas, nem como opcional. Na Ranger, porém, os ocupantes acomodam-se melhor. Os assentos da S10 são desconfortáveis, e não possuem regulagem do apoio de cabeça.

Mas todo o conforto não é suficiente para atenuar o sofrimento dos ocupantes quando se trafega sobre pisos esburacados, tão comuns no Brasil. Aí, é melhor esquecer a pressa e andar devagar. A não ser que você queira se sentir dentro de um liquidificador, já que as duas se comportam da mesma maneira, com a traseira saltando sem parar.

Assim como na estrada, a Ranger é superior à S10 na cidade por causa do motor. Depois que se aprende a domá-la, torna um carro ágil, apesar do tamanho, e apta para acelerar como um típico "carro de boy". A S10 só ganha da Ranger num tipo de terreno: estradas de terra, justamente o que essas picapes não foram feitas para enfrentar.

Estranhas na terra

Embora tenham cara de off-road, nenhuma das duas picapes nasceu para rodar fora do asfalto. Em estradas de terra, comportam-se como qualquer veículo normal, pois não têm tração 4x4. A suspensão rígida as faz sacolejar demais. Com a Ranger, o cuidado deve ser maior. Devido à sua potência e aos pneus, destinados ao asfalto, a picape da Ford tem dificuldade nos atoleiros. Se o motorista não dosar bem a aceleração, corre o risco de afundar ainda mais. A S10 se sai um pouco melhor nessas condições. Além de ser mais fácil de controlar, seus pneus possuem um perfil alto, com desenho mais "lameiro".

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Fonte: Quatro Rodas, Ano 36, Nº 437, Dezembro/1996
Reportagem gentilmente enviada por Daniel Martinelli.

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