REPORTAGENS


Comparativo / D-20 Custom x F-1000 SSS
O DUELO ENTRE AS PICAPES DA NOVA GERAÇÃO

Renovadas no estilo – e também mais confortáveis -, as picapes da Ford e da GM entram na briga pela conquista de um novo público: o dos jovens que não se contentam só com robustez. Veja como se saíram no confronto direto.

Reportagem de Charles Marzanasco / Teste de Heimar Lopes Nunes / Fotos de Jorge Meditsch

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O revezamento na luta pela conquista do título de campeã das picapes foi uma constante neste teste comparativo entre a D-20, da GM, e a F-1000, da Ford. Se, de um lado, a D-20 ganhou, por exemplo, no estilo mais arrojado, a F-1000 somou pontos preciosos em relação à segurança. Já em motor, a picape da Ford teve desempenho ligeiramente superior, enquanto, em câmbio, a D-20, valendo-se de uma quinta marcha, foi um pouco mais econômica.

Embora, no cômputo geral, a D-20 tenha obtido pequena vantagem, não seria prudente apontá-la como vencedora do teste. Seu motor, um Perkins, tem de provar, com o tempo, que reúne condições para superar o tradicional e famoso MWM, da F-1000.

Para este confronto, Quatro Rodas escolheu as versões mais luxuosas, e a diesel, das duas picapes: a Custom da D-20 e a SSS (Super Série Special) da F-1000 – um modelo de produção limitada (2.000 unidades, personalizadas pela própria Ford). Com o lançamento da D-20, a GM surge, atualmente, com mais vigor no mercado de comerciais leves, superando as dificuldades encontradas com o modelo anterior, a D-10, a partir de 74, quando nasceu a F-1000, com um perfil mais elegante e uma mecânica que conquistou, rapidamente, um público fiel.

Agora, o quadro pode mudar: o estilo é uma das características de impacto da D-20. Com suas linhas modernas e agressivas ela vai se impondo como a picape mais atraente do mercado no momento em que pesem as novidades introduzidas pela Ford na F-1000: a pintura personalizada e alguns equipamentos externos que embelezaram seu visual, como rodas esportivas e vidros ray-ban.

A Custom passou também, com louvor pela prova de capacidade de carga. Neste aspecto, a vantagem está na sua caçamba, capaz de suportar 1.050 Kg contra 1.005 da F-1000 SSS. Além disso, com uma área bem maior e mais profunda, pode carregar mais volume.

O fato dos usuários aproveitarem a versatilidade das picapes para o transporte de passageiros levou os fabricantes, recentemente, a darem maior importância ao conforto. Neste item, a D-20 ganhou em espaço mas perdeu em maciez, proporcionada pelo conjunto de suspensão da F-1000. Ampla, a cabina da Custom pode acomodar o motorista e mais duas pessoas. O assento, reclinável no encosto e regulável também em altura, é uma garantia da comodidade ao dirigir. A F-1000 testada também tinha esse tipo de banco, embora o modelo de série seja inteiriço. Nesse caso, e a nível de mercado, a D-20 certamente sairá lucrando. A esses detalhes de conforto deve-se acrescentar dois outros: seu ventilador-desembaçador, com quatro velocidades – enquanto o da F-1000 tem apenas uma velocidade –, e o teto basculante.

Da mesma forma, no que se refere ao painel, a D-20 Custom testada apresentou ligeira vantagem, em função de duas novidades: módulos para alojar pequenos objetos, como carteiras, cigarros, fósforos etc., e o horímetro. Este, situado no interior do conta-giros, com dígitos semelhantes ao do hodômetro, marca o número de horas de funcionamento do motor (1 hora é igual a 100.000 rotações do virabrequim). Em contrapartida, a D-20 não tem marcador de pressão de óleo. E as luzes-espias são mais visíveis na F-1000, ou seja, não são encobertas pelo volante.

Além de menor nível de ruído, o motor Perkins da D-20 atingiu a mesma velocidade de sua concorrente: 119,601 km/h. A diferença, mínima, ficou por conta da aceleração: de 0 a 100 km/h ela precisou de 33,81 segundos contra 32,19 segundos da F-1000.

No consumo de combustível verificou-se outro perfeito equilíbrio: vantagem para a F-1000 na cidade, andando vazia, e na estrada, rodando com carga, enquanto a D-20 comportou-se melhor na cidade, quando carregada, e na estrada, trafegando vazia. Por sinal, esses resultados confirmam que a versão a diesel, ainda que mais cara que as a álcool e gasolina, acaba sendo vantajosa para quem faz uso intenso da picape.

Com relação ao câmbio, a picape da GM conseguiu melhores resultados, por causa da quinta marcha. A relação da primeira é curtíssima e a da quinta mais longa. Certamente, com um câmbio desse tipo a F-1000 economizaria mais combustível e teria performance mais expressiva.

Quanto à segurança, a F-1000, além de se mostrar mais estável nas curvas, não muda a trajetória nas freadas com travamento das rodas, o que já não sucede com a D-20, principalmente quando está com a caçamba vazia.

A opção por um ou outro modelo é, na verdade, muito difícil. Nem mesmo o preço pode ser considerado como fator decisivo: a D-20 custava, em maio, Cr$ 66.535.457, com os seguintes opcionais: pára-brisa degradê, desembaçador, ventilação no teto, faróis halogêneos, direção hidráulica, câmbio de cinco marchas e pintura em dois tons. Já a F-1000 SSS custava à mesma época Cr$ 61.064.209, com estes equipamentos não de série: direção hidráulica e rádio AM/FM mono. No preço dessa versão estão incluídos: pintura preta ou marrom com faixas decorativas, rodas esportivas e vidros verdes.

RESULTADOS
   D-20   F-1000 
Desempenho - Ligeira vantagem para a F-1000 da Ford: de 0 a 100 km/h acelerou, vazia, em 32,19 segundos contra 33,81s da D-20 Custom. A velocidade máxima foi a mesma: média de 119,601 km/h em quatro passagens. 1 1
Consumo - Houve patente equilíbrio. Na cidade, vazias, a F-1000 SSS fez média de 12,90 km/l contra 13,04 km/h da D-20, enquanto na estrada a F-1000 fez 14,05 km/l contra 13,88 km/l de diesel. 7 7
Motor - O novo motor diesel Perkins, que equipa a D-20, melhorou muito. E tem tudo agora para ganhar mais confiança entre os seus exigentes consumidores e concorrer de igual para igual com o MWM da F-1000. 6 6
Transmissão e Câmbio - O câmbio de cinco marchas da D-20 é mais eficiente que o de quatro da F-1000. Seu escalonamento permite melhor aproveitamento do motor, além de ter a primeira bem mais curta. 5 4
Freios - A F-1000 transmite um pouco mais de segurança - não muda de trajetória, mesmo nas freadas de emergência. Já a D-20, apesar de parar em espaços semelhantes, freia irregularmente, principalmente descarregada. 4 5
Direção - As duas picapes tinham direção hidráulica - equipamento opcional de extrema importância para veículos que transportam cargas. O volante da F-1000, de maior diâmetro, é um pouco mais preciso. 6 6
Estabilidade - Equilíbrio: as duas picapes são estáveis e transmitem segurança para o motorista. Porém, num barro pesado, são mais difíceis de dirigir por não possuírem pneus do tipo cidade e campo. 5 5
Suspensão - Apesar da GM ter recalibrado a suspensão da D-20, a picape da Ford leva vantagem em conforto. Menos rígido, o conjunto da F-1000 proporciona rodar mais suave, sem prejuízo para a segurança. 5 5
Estilo - O projeto da D-20 é, sem dúvida, mais moderno. Por isso, o seu estilo é muito mais atraente e funcional. Sem decepcionar, as linhas da F-1000 acusam, naturalmente, seus dez anos de existência. 6 4
Acabamento - Para veículos destinados ao transporte de carga, o acabamento até que é satisfatório. No entanto, o da D-20 é um pouco superior: tem carpete em toda a extensão da cabina e o piso da caçamba bem mais cuidado. 6 6
Conforto - A D-20 é mais dura, porém tem mais espaço na cabina. Isso traz maior comodidade. Além disso, seu painel tem módulos para alojar pequenos objetos e sua ventilação, com três velocidades, é mais eficiente. 6 5
Nível de Ruído - Nas duas picapes é preciso se habituar ao forte barulho do motor a diesel. Porém, com o novo Perkins, a D-20 ficou mais silenciosa, igualando-se à F-1000 nas várias velocidades. 3 3
Posição do Motorista - A F-1000 SSS veio com banco independente para o motorista, opcional, que é de série na D-20 Custom. Ele é regulável em altura e encosto, o que facilita encontrar uma boa posição. 5 4
Instrumentos - O painel da D-20 é mais moderno, embora apresente alguns inconvenientes: falta de manômetro de óleo e luzes-espia encobertas pelo volante. Porém, incorpora horímetro e relógio de horas. 6 7
Capacidade de Carga - Com uma caçamba maior e mais profunda, a picape da GM transporta mais volume - 1.843 litros contra 1.655. Além disso, sua capacidade de carga também é um pouco maior: 1.050 kg contra 1005. 10 10


FICHA TÉCNICA
  D-20 CUSTOM F-1000 SSS
MOTOR Dianteiro, quatro cilindros em linha, quatro tempos, refrigerado a água. Válvulas de admissão e escapamento no cabeçote. Alimentação por injeção direta; a diesel. Dianteiro, quatro cilindros em linha, quatro tempos, refrigerado a água. Válvulas de admissão e escapamento no cabeçote. Alimentação por injeção direta; a diesel.
CILINDRADA TOTAL  3871 cm3 3922 cm3
DIÂMETRO X CURSO  98,4 x 127 mm 102 X 120 mm
TAXA DE COMPRESSÃO  16,0:1 16,6:1
POTÊNCIA MÁXIMA  86,4 CV (63,5 kW) ABNT a 2800 rpm ou 90 cv (66,2 kW) DIN a 2800 rpm 83 cv (61,0 kW) ABNT a 3000 rpm ou 86,4 cv (63,5 kW) DIN a 3000 rpm
TORQUE MÁXIMO  27,0 mkgf (264,55 Nm) ABNT a 1600 rpm ou 28,1 mkgf (275,4 Nm) DIN a 1600 rpm 25,3 mkgf (248,0 Nm) ABNT a 1600 rpm ou 26,3 mkgf (257,8 Nm) DIN a 1600 rpm
CÂMBIO  Longitudinal de cinco marchas para a frente e ré, com alavanca de mudanças no assoalho. Longitudinal, de cinco marhas para a frente e ré, com alavanca de mudanças no assoalho.
RELAÇÕES DE MARCHA  1ª) 6,33:1; 2ª) 3,60:1; 3ª) 2,15:1; 4ª) 1,40:1; 5ª) 1,00:1; ré - 6,42:1; diferencial - 3,15:1. Tração traseira. 1ª) 4,22:1; 2ª) 2,36:1; 3ª) 1,47:1; 4ª) 1,00:1; ré - 3,99:1; dianteira - 3,54:1. Tração traseira.
CARROCERIA  Picape, duas portas, três lugares. Picape, duas portas, três lugares.
SUSPENSÃO DIANTEIRA  Independente, com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos de dupla ação. Independente, com sistema de barras duplas, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos de dupla ação.
SUSPENSÃO TRASEIRA  Feixes de molas semi-elípticas e amortecedores hidráulicos de dupla ação. Feixes de molas semi-elípticas e amortecedores hidráulicos de dupla ação.
FREIOS  A disco, ventilado, nas rodas dianteiras, e a tambor nas traseiras, com válvula equalizadora e servo-freio. A disco, ventilado, nas rodas dianteiras, e a tambor nas traseiras, com válvula equalizadora e servo-freio.
DIREÇÃO  Hidráulica (opcional), de rosca-sem-fim e rolete. Diâmetro do volante: 40,5 cm. Hidráulica (opcional), de rosca-sem-fim e rolete. Diâmetro do volante: 44 cm.
DIÂMETRO DE GIRO  12,50 m para a esquerda e 13,50 m para a direita. 13,80 m para a esquerda e 14,10 m para a direita.
DIMENSÕES EXTERNAS  Comprimento total: 482 cm; largura: 200 cm; altura: 178 cm; distância entre eixos: 292 cm; bitola dianteira: 164 cm; bitola traseira: 160 cm; distância mínima do solo: 22cm. Comprimento total: 485,6 cm; largura: 202,9 cm; altura: 182,4 cm; distância entre eixos: 291,6 cm; bitola dianteira: 163,6 cm; bitola traseira: 161,3 cm; distância mínima do solo: 19,0 cm.
RODAS  Aro 16 pol. x tala de 6 pol. Aro 16 pol. x tala de 6 pol.
PNEUS  7,00 x 16/8L 7,00 x 16/8L
CAPACIDADE DO TANQUE  88 litros 87 litros
CAPACIDADE TOTAL DE CARGA  1.050 kg 1005 kg
VOLUME TRANSPORTÁVEL  1.843 litros 1.655 litros
PESO DO MODELO TESTADO  2.020 Kg 2.045 Kg
FABRICANTE  General Motors do Brasil S.A. Ford Brasil S.A.

Fonte: Quatro Rodas, Ano 25, Nº 299, Junho/1985
Reportagem gentilmente enviada por Daniel Martinelli

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