REPORTAGENS


Teste / Chevrolet D-20 Custom
A VELHA PICAPE MORREU. EIS A NOVA PICAPE.

Embora conservando sua força e robustez, nossas picapes pesadas começam, a exemplo das americanas, a rever sua linha e a oferecer conforto quase igual ao de um carro de passeio. Primeira a mudar, a D-20 Custom, da GM, traz além disso novidades no motor, para torná-lo mais durável e econômico.

Reportagem de Charles Marzanasco Filho / Fotos de Jorge Meditsch

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Da soja, no início dos anos 70, ao recente boom da laranja, o setor agroindustrial, exportador ou não, conseguiu nos últimos anos ampliar enormemente sua participação na economia do país e, em conseqüência, favorecer a concentração de renda no interior. Assim, nada mais lógico que, acompanhando esse deslocamento, logo surgisse um novo e promissor mercado para nossa indústria automobilística – o das picapes.

A primeira a acordar foi a Fiat, lançando em 1980 a sua City. Depois vieram a Pampa, a Saveiro e a Chevy 500. Todas derivadas de carros de passeio – e, portanto, capazes também de atender a uma exigência de mais conforto -, elas logo se firmaram no mercado. E acabaram, com isso, tomando espaço das tradicionais picapes Ford e Chevrolet, que, embora muito mais potentes e robustas, tinham permanecido durante anos quase inalteradas no estilo e no conforto.

Agora isso está mudando. E a mudança começa pela GM com o lançamento da D-20 como opção à antiga D-10. Uma mudança radical: no visual, no painel, nas rodas e até no motor, que agora é um Perkins de injeção direta – mais potente e econômico, como o teste demonstrou. E não demora, a Ford também aparecerá com uma nova versão da sua F-1000, igualmente atualizada no estilo e mais incrementada no conforto.

Do aspecto visual ao conforto, um novo estilo de picape.

Acompanhando a evolução da picape Chevrolet americana, a D-20 se tornou, com as mudanças, muito mais moderna e atraente, sem perder suas tradicionais características de resistência e robustez. De linhas mais retas, a cabina e a caçamba formam agora um conjunto mais integrado, que eliminou alguns pontos de turbulência de ar do modelo anterior.

O capô, por sua vez, sofreu ligeira inclinação para a frente, terminando num jogo de lanternas envolventes até os pára-lamas e em dois faróis retangulares com lâmpadas halógenas. Na traseira, as lanternas, também envolventes, ficam em posição vertical e a grande novidade foi a colocação de um trinco na tampa da caçamba, de modo a eliminar o incômodo sistema de ganchos.

A caçamba, além disso, ficou um pouco mais larga e profunda, o que aumentou sua área útil para 3,477 m. E permaneceram os ganchos nas tampas laterais – quatro internos e quatro externos em cada uma –, para facilitar a amarração da carga. O único inconveniente é o do estepe nela alojado, que não tem trava de segurança contra roubo. Ou seja, a menos que se instale um sistema desses por conta própria, o risco de se deixar a picape estacionada na rua e o estepe desaparecer com roda e tudo é muito grande. Ou então, como esses pneus quase nunca furam, a solução é deixar o estepe em casa e só carregá-lo quando for para viajar.

Na versão Custom testada, que é a mais luxuosa, observa-se claramente o empenho da fábrica em proporcionar ao motorista e passageiros da D-20 o conforto de um carro de passeio. É claro que a distância em que se fica do solo e o próprio ruído do motor a diesel fazem a diferença. Mas os bancos ficaram mais envolventes, além de 13 cm mais largos, os painéis laterais das portas ganharam outro acabamento e o painel de instrumentos, sobretudo, se modernizou.

No que se refere aos bancos, aliás, o do motorista agora é separado, ocupando 1/3 do espaço. Reclinável e com assento regulável em altura, passou a oferecer muito melhor posição de dirigir.

O painel agora lembra um pouco o dos Camaro mais antigos. Envolvente nas extremidades, ele tem velocímetro e conta-giros de boa grafia, marcadores de combustível e de temperatura do motor e ainda relógio de horas. Só falta mesmo um marcador de pressão de óleo, que já tem, contudo, lugar apropriado para sua instalação.

Outra grande inovação desse painel foi a introdução de um horímetro, na versão a diesel. Situado no interior do conta-giros e com dígitos semelhantes aos do hodômetro, ele marca o número de horas de funcionamento do motor (1 hora = 100.000 rotações do virabrequim). Para maior precisão, o dígito da direita se movimenta a cada décimo de hora – portanto, a cada 10.000 rotações.

É fácil entender a importância desse instrumento quando esse tipo de picape é usado predominantemente na terra. Ou seja: em percursos curtos, mas demorados. Nessas condições, a quilometragem indicada no hodômetro deixará de ser o melhor referencial para se avaliar o estado do motor e orientar os serviços de manutenção, tornando-se então mais apropriada para isso a leitura do horímetro.

O conforto da nova picape se completa com um bom sistema de ventilação forçada, que solucionou o problema de embaçamento do pára-brisa. Há ainda na capota uma tampa basculante, para ser aberta nos dias de mais calor, e outros detalhes, que fazem se sentir dentro dela como num carro de passeio: bolsa na porta do motorista, pára-sol também do lado do passageiro, luzes de cortesia nas duas portas, acendedor de cigarros acoplado ao cinzeiro e pára-brisa com lavador elétrico e limpador de três velocidades. Dois pontos criticáveis: a má localização do freio de mão — na parte inferior esquerda do painel, o motorista poderia se projetar contra o volante para poder acioná-lo — e também a má localização das luzes-espia, praticamente encobertas pelo volante.

Motor e cofre, feitos um para o outro. Com isso, menos ruídos.

Segundo a GM, o motor Q.20B4 Perkins, que equipa a D-20, começou a ser desenvolvido há dois anos e meio, já com o objetivo de ser incorporado à nova linha de picapes. Com isso, o novo cofre pôde ser adaptado a ele, conseguindo-se um encaixe mais firme e sem as vibrações do modelo anterior.

Além disso, esse motor sofreu significativas mudanças internas, que melhoraram seu consumo, desempenho, nível de ruído e durabilidade. A principal delas foi a introdução de um sistema de combustão mais eficiente, que pulveriza e queima melhor o diesel. Outra mudança importante foi a introdução dos chamados pistões de expansão controlada, que dilatam menos com o calor e assim submetem a menor atrito as camisas dos cilindros.

Em números, isso se refletiu num aumento de potência de 82 para 90 CV e num aumento de torque de 27 para 28,1 mgkf. E também a manutenção foi facilitada e barateada: agora a troca de óleo deve ser feita a cada 7.500 km e não mais a cada 5.000 km como antes.

Desempenho, como era de se esperar, não é o forte desse tipo de motor: ele conseguiu levar a D-20 a modestos 122,345 km/h de velocidade máxima e a acelerar de 0 a 100 km/h em 35,56 segundos. Em compensação, é um motor resistente, feito para rodar 300.000 km ou mais, e muito econômico. Basta dizer que totalmente carregado, na estrada, fez 11,20 km/l de diesel e, na cidade, 9,07 km/l.

Aliás, são esses dois fatores — durabilidade e consumo — que devem ser bem pesados pelo comprador na hora de optar pela D-20 com motor a diesel. Isso porque, nessa versão, ela custava em abril cerca de Cr$ 23 milhões a mais que na versão a álcool, ou mesmo a gasolina. Ou seja, um desencaixe inicial bem maior, cujo retorno, mais ou menos rápido, se dará de acordo com a intensidade de utilização que se fizer dela.

A maior procura é a diesel, embora Cr$ 23 milhões mais cara.

Ainda com relação a preço, é importante destacar que 76% das D-20 vendidas são a diesel. E que a versão testada tinha dois opcionais que nos pareceram da maior utilidade: a direção hidráulica por Cr$ 2.411.193, que a torna muito mais fácil e agradável de ser dirigida, e o câmbio de cinco marchas (Cr$ 992.408), pela maior flexibilidade que oferece. Isto é, com cinco marchas, foi possível se reduzir ao máximo a primeira e só se valer dela para enfrentar situações realmente adversas de peso e estrada, e escalonar as outras quatro de modo que formassem um câmbio à parte para o uso normal. Nessas condições, sai-se sempre em segunda, cuja posição de engate, aliás, é igual à dos câmbios convencionais de quatro marchas.

A estabilidade e os freios nos pareceram adequados — e não foram prejudicados pela preocupação da fábrica em dotar a D-20 de um rodar mais suave. Isso fica evidenciado no amaciamento dos amortecedores e no encurtamento das molas traseiras em 3 cm. Obviamente, ela não se comporta nesses itens como carro de passeio, tendendo, principalmente quando vazia, a se desviar de trajetória nas freadas mais rápidas. Além disso, deve-se considerar a expressiva altura que sua carroceria mantém em relação ao solo.

Concluindo, a nova picape Chevrolet é um veículo que estava faltando no mercado brasileiro. Ou melhor: que estava faltando ser remodelado, para acompanhar a evolução da nossa indústria automobilística. E que ainda poderá vir a ser aperfeiçoado em vários aspectos, como nos engates um pouco duros do câmbio e no uso de mais material fonoabsorvente para neutralizar os decibéis do motor a diesel.

RESULTADOS
Desempenho Pobre, porém adequado a um utilitário a óleo diesel. Chegou à máxima de 122,345 km/h. 1
Consumo Aqui, ao contrário, foi bem, levando em conta suas características: 11,20 km/l, carregada. 6
Motor Resistente e durável, como sempre, ficou agora mais econômico e um pouco mais silencioso. 6
Transmissão e Câmbio Com cinco marchas, um conjunto mais eficiente. Engates um pouco duros. 5
Freios Espaços percorridos razoáveis, mas muita tendência aos desvios de trajetória. 4
Direção Com a opcional hidráulica, nenhuma dificuldade nas manobras e razoável precisão em velocidade. 6
Estabilidade Mesmo com pneus comuns, de cidade, comporta-se bem em qualquer tipo de terreno. 5
Suspensão Ligeiramente amaciada, passou a proporcionar um rodar mais suave e silencioso. 5
Estilo Visivelmente mais atualizado, em função das linhas mais retas e lanternas envolventes. 6
Acabamento Para um veículo de uso misto, muito pouca coisa a mais poderia se exigir. Agrada bastante. 6
Conforto Beneficiado pela reformulação do banco, é quase o de um carro de passeio. Boa ventilação. 6
Nível de Ruído Houve redução com as modificações, mas ainda é elevado, mesmo se tratando de diesel. 3
Posição do Motorista Bem melhor, com o banco independente e regulável na altura e no encosto. 5
Instrumentos Melhoraram em tudo: no formato, na grafia e na quantidade, destacando-se o horímetro. 7
Porta-malas Excelente área disponível: 3,477 m3. Capacidade de carga também elevada: 1 050 kg.  10 

FICHA TÉCNICA
Motor Dianteiro, quatro cilindros, quatro tempos, refrigerado a água. Válvulas de admissão e escapamento no cabeçote e alimentação por injeção direta. Combustível: diesel.
Cilindrada total 3.871 cm3
Diâmetro x curso 98,4 x 127 mm
Taxa de compressão 16,0:1
Potência máxima 90 cv (66,2 kW) DIN a 2.800 rpm
Torque máximo 28,1 mkgf (275,4 Nm) DIN a 1.600 rpm
Relações de marcha 1ª) 6,33:1; 2ª) 3,60:1; 3ª) 2,15:1; 4ª) 1,40:1; 5ª) 1,00:1; ré) 6,42:1; diferencial) 3,15:1. Tração traseira.
Carroceria Picape, duas portas, três lugares.
Suspensão dianteira Independente, com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos de dupla ação.
Suspensão traseira Feixes de molas semi-elípticas e amortecedores hidráulicos telescópicos de dupla ação.
Freios A disco ventilado nas rodas dianteiras e a tambor nas traseiras, com válvula equalizadora e servofreio.
Direção Hidráulica (opcional), de setor.
Diâmetro do volante 40,5 cm
Diâmetro de giro 12,50 m para a esquerda e 13,50 m para a direita.
Dimensões externas Comprimento total, 482 cm; largura, 200 cm; altura, 178 cm; distância entre eixos, 292 cm; bitola dianteira, 164 cm; bitola traseira, 160 cm; distância livre do solo, 22 cm.
Rodas Aro de 16 pol. x tala de 6 pol.
Pneus 7,00 x 16/8L
Capacidade do tanque 88 litros
Capacidade total de carga 1.050 kg
Volume transportável 1.843 litros
Peso 2.020 kg
Fabricante General Motors do Brasil S.A., av. Goiás, 1805, CEP 09500, São Caetano do Sul, SP. Telex: (011) 44137

Fonte: Quatro Rodas, Ano 25, nº 298, Maio/1985.
Reportagem gentilmente enviada por Daniel Martineli e Fernando Figueiredo.

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