REPORTAGENS


Confronto da Pampa, Saveiro, Chevy e Fiorino
O PIQUE DAS PICAPES

Simpáticas e baratas, elas apostam no lazer, conquistam os jovens e aquecem as vendas.

Eduardo Pincigher

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As picapes são exceção à regra na atual reestruturação do mix das fábricas. Enquanto todos os modelos passam a ter acabamento básico para derrubar o preço, elas ganham toques de conforto e esportividade. Mais que simples cargueiros, as simpáticas Fiorino LX (Fiat), Saveiro CL (Volkswagen), Pampa GL (Ford) e Chevy 500 DL (General Motors) tentam atender atualmente às exigências de um público jovem e crescente (10% do mercado). Todas são mais baratas que os carros de passeio de sua linha.

Nosso teste comparativo de pista e de utilização diária mostra que leva vantagem quem apostou mais alto na modernização. E a campeã foi a Fiorino – surpreendemente, até com certa facilidade. A Chevy 500, por sua vez, decepcionou. Num ranking hipotético, a Saveiro apareceria em segundo lugar, com a Pampa em seguida. O resultado comparativo é este e, agora, resta saber os motivos. Portanto, vamos a eles.

A performance dessas picapes começa a ser explicada quando se busca a origem de cada uma delas. A Fiorino nasceu da Elba, a Saveiro da Parati, a Pampa surgiu da Belina II e a Chevy 500, da Marajó. A campeã das vendas é a Pampa, que oferece uma versão com tração nas quatro rodas muito apreciada no interior do país. Quanto à Chevy, também ganha pontos por ser a única com tração traseira, o que garante certa tranqüilidade em terrenos lamacentos. O objetivo, entretanto, é mostrar as picapes na utilização urbana.

Nessa situação, nem mesmo os 92 cv de potência da Pampa (a única com motor 1.8) fizeram milagres, pois ela é aproximadamente 150 kg mais pesada que as outras. A aerodinâmica deficiente, originária da Belina (quem se lembra dela?), deixou a Pampa atrás da Fiorino (84 cv) e da Saveiro (76 cv) nas provas de aceleração e velocidade máxima. Ela se deu bem, mesmo, na retomada de velocidade (40 a 100 km/h em quinta marcha), quando pôde abusar do bom torque do motor AP-1800. A Pampa cravou 23s06, mas ainda perdeu para a Fiorino, que conseguiu 22s34. A Saveiro penou para chegar aos 29s10 e a Chevy foi um fiasco: 33s54.

A picape da Fiat brilhou novamente na prova de velocidade máxima: 156,4 km/h contra 150,8 da Saveiro e 150,3 da Pampa. Os números da Chevy causaram espanto: apenas 139,1 km/h, inferior até aos do humilde Uno Mille Brio testado em nossa edição de agosto. Na aceleração de 0 a 100 km/h, entretanto, a Saveiro foi mais rápida que a Fiorino, marcando 13s11 contra 13s29. A Pampa cravou 14s05 e a Chevy — pobre Chevy... — só conseguiu 18s53.

A explicação para esses números está na concepção mecânica de cada picape. A Fiorino tem a aerodinâmica mais eficiente e seu motor de 1580 cm3 é disposto transversalmente. A Saveiro sofre maior resistência do ar por culpa do design ultrapassado. Em compensação, o reformulado motor AE-1600 é suficiente para seus 900 kg. A Pampa, por sua vez, está cansada. Trata-se de um projeto dos anos 70 que sobrevive à custa da revitalização do motor 1.8. Quanto à Chevy, o grande drama está na impotência do motor Chevrolet 1.6/S. Além disso, a tração traseira exige um eixo cardã e um diferencial para gerar potência — mas esse conjunto implica maior quantidade de peças móveis, mais atrito e um enorme percurso para a energia sair do motor e chegar até as rodas.

Desequilíbrios à parte, nas provas de consumo as quatro picapes se saíram muito bem — e todas já aparecem bem colocadas no ranking de QUATRO RODAS. Econômicas na cidade e na estrada, elas oferecem mais esse atrativo para o bolso do consumidor. A Fiorino consumiu somente 6 litros de gasolina num percurso rodoviário de 94,6 km. Média: 15,76 km/l. Chevy e Saveiro empataram com 14,33 km/l e a Pampa, pesadona, estacionou nos 12,96 km/l. Na cidade, novo equilíbrio, com médias de consumo entre 10 e 10,5 km/l de gasolina.

Após um passeio pelos números mais significativos, convém observar, por fora, o que esses veículos oferecem. A Pampa, aparentemente, é a mais espaçosa, mas sua caçamba costuma pregar algumas peças. A péssima idéia de fixar o estepe na traseira agride o design e rouba espaço. Na Saveiro e na Chevy, o estepe fica atrás do banco; na Fiorino, foi colocado junto ao motor — e, com isso, dá outro show. Para qualquer tipo de utilização, a picape da Fiat terá, além de mais espaço, maior capacidade de peso, pois suporta 620 kg na traseira, uma boa vantagem sobre a Saveiro (550), a Pampa (530) e a Chevy (500 kg).

Nunca se deve esquecer, entretanto, que carro foi feito para transportar pessoas. E, nesse caso, a Chevy pelo menos traz os bancos mais confortáveis. Mas não se anime, porque é só. O painel pobre é uma característica das quatro, mas a picape da GM oferece um relógio digital que melhora o conjunto. Pena que o pedal do acelerador seja mal fixado, dificultando a tarefa do motorista quando é necessário pisar fundo. A Pampa não tem sequer freio de mão, preferindo optar por um pedal acionado pelo pé esquerdo, ao lado da embreagem. Se não for solto completamente, nenhuma luz do painel avisará o motorista. Aliás, nem o afogador puxado aparece indicado no painel. A Ford deve ter esquecido que a sigla GL significa Gran Luxo. Falta até relógio...

O item segurança mostrou a Chevy ressurgindo das cinzas, com a frenagem mais eficiente: 28,9 metros até parar, vindo a 80 km/h. A picape da GM tem uma distribuição de peso bem equacionada e usa pneus mais largos que as concorrentes, do tipo cidade/campo. Se a Chevy freia com eficiência, a Saveiro mostra a melhor estabilidade em curvas fechadas ou abertas, na terra ou no asfalto, no seco ou no molhado, vazia ou carregada. A picape da Fiat tentou acompanhá-la, mas é difícil enfrentar os Volkswagen nesse item. A Fiorino tende a escapar ligeiramente de traseira nas curvas de alta quando está sem carga. A Pampa parece “navegar” sobre os eixos nas manobras rápidas. Ou seja: as rodas obedecem, mas o carro insiste em permanecer em linha reta. Quando foi projetada, a Pampa teve um aumento na distância entre eixos em relação à Belina. O sistema de direção permaneceu igual e os feixes de molas na traseira reforçaram o acúmulo de carga. Esses conjuntos não combinam. Na Chevy, o eixo rígido empurra a parte traseira do veículo para fora da curva. Vale lembrar que, em situações normais de dirigibilidade, esses problemas de segurança não acontecem. Basta que ninguém abuse nas curvas rápidas ou fechadas quando estiver ao volante.

Poucas vezes um teste comparativo de QUATRO RODAS mostrou tanto desequilíbrio como este, a favor da Fiorino LX. Ela foi mais veloz, mais econômica, apresentou o maior espaço interno e a maior capacidade de carga. Se não bastasse, ainda consegue ganhar também num item de muito peso: o preço.

Carregadas, elas andam bem menos

Além de toda a bateria de testes tradicionais, lançamos um desafio às quatro picapes. Contando com sacos de milho, de 60 kg cada, repetimos as provas de consumo em velocidade constante e retomada de velocidade.

Com 300 kg na caçamba e pneus devidamente recalibrados, criamos uma situação real de transporte de carga — considerando que poucas pessoas lotam suas picapes com plena capacidade de peso. Novamente os resultados causaram surpresas. Uma boa e outra ruim.

Quando as picapes atingem 80 km/h, estando ou não carregadas, o consumo constante é praticamente o mesmo. Esta é a boa notícia. A Fiorino fez 16,18 km/l com carga e 16,54 km/l vazia. A Saveiro, econômica, marcou 14,08 contra 14,70. A Pampa, por sua vez, percorreu 13,58 km com 1 litro de gasolina, carregada, e 13,77 sem peso extra. A Chevy registrou 13,23 km/l com a carga de milho e 13,85 km/l vazia.

Tudo isso significa que, num percurso de 1.000 km, o proprietário de uma picape da GM — aquela que apresentou a maior diferença — desembolsará apenas 670 cruzeiros a mais de combustível. Nas outras, este valor diminui. No caso da Fiat, a diferença é de somente 265 cruzeiros.

Para retomar velocidade, entretanto, elas foram mal. Em quinta marcha, partindo de 40 km/h até os 100 km/h, a Fiorino, carregada, precisou de 8 segundos extras para completar a prova. A Saveiro perdeu 11s74 na retomada, a Pampa gastou mais 7s02 e a Chevy, 8s04.

Números do teste

  Fiorino Saveiro Pampa Chevy
Preço (Cr$ x 1 milhão em agosto) 2,9 3,0 3,8 3,1
Velocidade (máxima na pista em Km/h) 156,4 150,8 150,3 139,1
Aceleração (0-100 km/h em segundos) 13,29 13,11 14,05 18,53
Retomada (40-100 km/h em segundos) 22,34 29,10 23,06 33,54
Consumo / Cidade (Km/l de gasolina) 10,51 10,30 10,04 10,19
Consumo / Estrada (km/l de gasolina) 15,76 14,33 12,96 14,33
Nível de ruído (média em decibéis) 71,29 70,28 72,53 74,79
Frenagem (80-0 km/h em metros) 31,4 30,5 30,4 38,9
Caçamba (capacidade em kg) 620 550 530 500

Fonte: Quatro Rodas, Ano 31, Nº 374, Setembro/1991
Reportagem gentilmente enviada por Fernando Figueiredo.

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