REPORTAGENS | |||||||||
As duas belezas mostradas nesta edição estavam merecendo uma matéria há tempos, desde que o jornalista Nelson de Almeida Filho apareceu com uma delas aqui na revista. A reação do pessoal da redação foi imediata: "mas que barca!", "Que carro é esse, uma Veraneio antiga?", "Nunca tinha visto um 4x4 tão diferente...", foram algumas das frases ouvidas, sempre acompanhadas de olhares espantados. Texto e fotos James Garcia As expressões de espanto tinham explicação. Iguais a esse carro, aqui no Brasil, viam-se muito poucos. Que se sabe, atualmente, contam-se apenas dois carros, que estão nas mãos de amigos, que por sua vez não pretendem desfazer-se tão cedo dessas máquinas raras. Os dois carros, ambos 66, foram doados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, pelo governo norte-americano, ainda na década de 60. Já na década de 80, depois de muito serviço, os carros foram a leilão em Brasília, sendo adquiridos por um preservacionista de veículos 4x4 e militares. Os dois modelos estavam caracterizados como viaturas de transporte militar. O primeiro dono ficou pouco tempo com as duas Carryall, mas tratou de repassá-las para pessoas próximas e que certamente cuidariam dos carros. A primeira a ser vendida foi a mais escura, de cor verde fosca. A K-10 ficou com o jornalista Nelson de Almeida Filho que praticamente desmontou-a toda, reformando sua lataria e cromando diversos de seus acessórios. Os bancos originais foram trocados por bancos com suspensão hidráulica do caminhão Volkswagen, e o eixo traseiro por um de Veraneio. A Carryall passou a ser o seu carro do dia-a-dia, durante 12 anos. Nesse período, Nelson colocou no carro o apelido de ET, Estranha e Truculenta. Há alguns anos, Roberto Gambirasio Filho comprou-a de Nelson. O carro nessa época também necessitava de reparos mecânicos. Foram revisados o motor, o câmbio, os freios, além de outros itens, e todos ficaram impressionados com o ótimo estado de conservação em que estavam as engrenagens e componentes internos da caixa de transferência. "Se fossem lavadas, cobertas com cera e embaladas, muito dificilmente alguém perceberia que não se tratavam de peças novas", comentou o mecânico Domênico Montalbano, responsável pela revisão do carro (Domênico é também o proprietário da outra Carryall, conforme explicaremos a seguir). Roberto quis personalizar a sua Carryall, pintando-a de verde oliva fosco e instalando um guincho elétrico Warn 9000 cm em sua dianteira. Para melhorar ainda mais a segurança, foi adaptado um circuito duplo de freio, similiar ao da C-10. Quem "fisgou" e está com a K-10 bege dunas, é o mecânico especializado em fora-de-estrada, Domênico, que logo percebeu que o carro (que novidade...) carecia de uma reforma urgente. A lataria estava razoável, mas precisava de uma nova pintura e alguns retoques. Os vidros desse carro são todos fixados em molduras metálicas, que por sua vez são fixadas nas borrachas, e somente depois na lataria. Por estarem totalmente podres, os vidros estavam soltos, e novas molduras tiveram de ser artesanalmente construídas. Também entraram na lista de reparos, o tecido dos bancos e tapeçaria. Durante a reforma, Domênico percebeu que tinha em mãos um carro com fácil viabilidade de manutenção. Várias peças do Carryall são intercambiáveis com peças da linha GM brasileira. O motor é o nosso conhecido GM 6 cilindros 4.1-S, o mesmo utilizado nos Opalas. Quem diria que esse motor, em linha até nos dias de hoje, é um projeto de mais de trinta anos? O câmbio é similiar ao da D-10, a embreagem é idêntica à da C-10, os freios são da Veraneio. A suspensão dessa bela máquina é composta por feixes de molas semi-elípticas, sendo que a dianteira é dela mesmo e a traseira é do caminhão F-4000 da Ford. Os munhões e cruzetas são os do Jeep Willys e Ford. Por aí, dá para se ter uma idéia de que não é nada difícil manter esses carros em dia. Andar na Carryall é um prazer. O carro é macio, muito acima dos padrões de conforto dos veículos de sua categoria, construídos na mesma época. Tem sistema de ar quente, original, que funciona perfeitamente. A direção, apesar de mecânica, é precisa e não é dura. A tração e a reduzida são acionadas por uma só alavanca, de dois estágios. (Imaginem o jipe Engesa com esse sistema...) Por ser originalmente alto, tem-se a impressão de estar nas nuvens. Ao pisar no acelerador, o motor responde rapidamente, e o melhor, com conforto e silêncio, alcançando velocidades máximas próximas a 135 km/h. Viajar a 100 km/h é fácil, fácil. O consumo? Cerca de 5,5/6 km por litro na cidade, e 7 km/l na estrada. O segredo é sua boa relação de marchas (bem elástica) e um motor forte, que tem como característica maior a sua faixa de torque em baixas velocidades, funcionando como um "reloginho" a partir dos 80 km/h. Domênico, que usa o seu carro no dia-a-dia, diz que apesar de ser um veículo antigo, a Carryall é confiável, pois muitos de seus componentes estão sendo utilizados até hoje. Sua confiança no carro é plena, a ponto de viajar com ele duas vezes por ano, de São Paulo a Florianópolis, sempre com muito conforto e sossego. Se alguém quiser saber maiores detalhes, ou mesmo obter mais informações sobre os carros, basta ligar para o Roberto ou o Domênico, nos seguintes telefones, Roberto: (011) 247-3477, Domênico (011)9103-9576. Fonte: 4x4 & Cia, Nº 59, Junho/1998 |
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