REPORTAGENS


Bonanza Custom DeLuxe
UMA INVESTIDA DE PESO

A GM faz um acordo com a Brasinca e lança a primeira blazer nacional de fábrica: a confortável Bonanza.

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A primeira sensação é de conforto — em uma carroceria curta, quase trinta centímetros menor do que por, exemplo, a do Opala, tem-se o espaço interno de um microônibus para cinco pessoas. A segunda é de imponência — alta e larga, ela impõe respeito no trânsito tanto quanto um pequeno caminhão. E a terceira impressão é de segurança — a de se saber que, ao contrário das outras peruas do gênero, a Bonanza é a primeira blazer (tipo de veículo destinado ao passeio, descontração e lazer) produzida no Brasil por uma grande fábrica, a GM. Para o consumidor, esse é um detalhe que pesa, ainda que o novo modelo — que é sensívelmente menor que a outra avantajada perua da marca, a Veraneio — seja praticamente igual a Passofino, uma outra blazer que até o lançamento da Bonanza era feito pela Brasinca.

No caso, não se trata de coincidência, mas sim de conseqüência. É que para entrar no atraente mercado das picapes personalizadas (nunca antes explorado por nenhuma montadora), a GM foi buscar o know-how da própria Brasinca, que passou a construir a carroceria da nova Bonanza com base na sua antiga Passofino. Basicamente, mudou-se apenas o formato dos vidros laterais traseiros (antes eles avançavam sobre a capota), a posição do estepe (agora dentro do porta malas e não mais fora do carro ) e o chassi, que na Passofino era o da picape A-20, e na Bonanza é próprio, feito exclusivamente para ela pela GM, ainda que com base no da própria picape da marca.

Aliás, toda a mecânica da Bonanza é a mesma da picape e, assim sendo, convêm exatamente o que se pode esperar do modelo: suas reações são sempre as de um veículo de duas toneladas e que, por isso, merece muito cuidado por parte do motorista. Em nosso primeiro teste com a blazer da GM, sua estabilidade se mostrou aceitável apenas em asfalto liso, sem ondulações. Em pisos irregulares — ou mesmo na terra esburacada — a sensação é de um desequilíbrio momentâneo, que chega a assustar. Convém ficar atento, principalmente nas curvas e em altas velocidades — algo que, por sinal, a Bonanza atinge com extrema facilidade.

Isso porque especialmente na versão a álcool, o enorme motor de seis cilindros tem bom torque e movimenta com relativa agilidade os 2060 quilos do carro. Em nossas medições na pista de testes, a Bonanza Custom DeLuxe (versão bem mais completa que a outra, a Custom S) acelerou de 0 a 100km/h em 16,11 segundos e atingiu a velocidade máxima de 147,2km/h — um desempenho bom até demais para o que o conjunto pode oferecer em termos de segurança. Quando equipada com pneus largos, a tendência é o bloqueamento das rodas em frenagens mais acentuadas. Por isso, apesar da generosidade do motor, trata-se de um veículo para ser usado com moderação no acelerador — até por que, como a cabine é alta, a sensação de velocidade é menor. Compete ao motorista ter consciência de que está dirigindo uma pesada picape e não um simples automóvel de passeio, embora o conforto a bordo conduza ao segundo raciocínio.

"Por causa do consumo, a autonomia é pequena"

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O bom desempenho da Bonanza tem, porém, o seu preço no consumo, que é exagerado. Por causa do peso e da curta relação de transmissão (falta-lhe, sem dúvida, uma quinta marcha ou um diferencial mais longo para soltar o motor, pois a 100km/h ele está 1000 rpm acima do seu torque máximo), em nosso teste, ela não conseguiu ir além de míseros 4,40km/l de álcool na estrada, 100km/h e carregada. Na cidade, foi ainda mais beberrona: 3,70km/l. Na prática, isso significa que, apesar dos 88 litros do tanque, sua autonomia é pequena: menos de 400 quilômetros na estrada e pouco mais de 320 na cidade.

Mas, se o consumo decepciona, o visual e o bem-estar interno agradam em cheio. O estilo claramente rural da Bonanza confere a seu usuário o status de fazendeiro, ainda que ele seja um pacato morador urbano. O carro chama atenção nas ruas, e, mais importante, impressiona os passageiros pelo conforto. Espaço interno é o que não falta — seja no enorme porta-malas (com acesso fácil pela grande tampa traseira), seja para as pernas dos ocupantes do banco de trás, este menor do que deveria ser. A culpa é das caixas salientes das rodas traseiras, que impedem o banco de ir de um lado a outro da carroceria, criando um vão inútil nas laterais, e roubando o espaço de mais uma pessoa. Para compensar a falta de apoio lateral, o banco ganhou braços nas extremidades, à semelhança dos bancos de ônibus. O resultado, porém é que a impressão de espaço atrás aumentou ainda mais.

Por dentro, a Bonanza tem de tudo para o conforto dos passageiros: de ar-condicionado a bancos com tecido aveludado, passando por carpete e um grande e prático console central. Mas é certo que nem tudo é parfeito no carro. O cinzeiro, por exemplo, fica longe demais do motorista (para alcançá-lo é preciso deitar sobre o console), o porta-luvas só é grande por fora, a alavanca de câmbio (de quatro marchas) tem um curso muito longo, o volante (requintadamente, o mesmo do Opala Diplomata) tapa a visão de alguns instrumentos do painel. Além disso, os bancos dianteiros recolhem automaticamente toda vez que o encosto é abaixado para a entrada de passageiros de trás. Isso faz com que, a cada embarque, seja preciso regular novamente o banco. Melhor seria se o modelo viesse logo com quatro portas, como é a Veraneio.

Em compensação, a visibilidade é boa (por causa das janelas, que são grandes), o nível de ruído é baixo e a direção hidráulica cumpre bem a sua função: não é levíssima nas manobras e transmite firmeza com o carro em movimento.

Entre prós e contras, o saldo da Bonanza é positivo, apesar do seu preço salgado. Na versão mais completa, ela custa um pouco mais até que o caríssimo Escort XR3 conversível. Para quem, no entanto, dispõe desse dinheiro e até hoje não optou por uma grande perua por ter receio das transformações feitas por pequenas empresas do gênero, o aval de uma grande fábrica pode ser o fator de decisão.

RESULTADOS - "É estável, mas só no liso"
Desempenho Bom até demais em relação ao resto do conjunto 5
Consumo Muito alto na versão a álcool. Melhoraria com um câmbio longo 1
Motor Antigo, beberrão e de baixa potência específica. Mas resistente 3
Câmbio Mereceria uma quinta marcha e engates mais suaves 4
Freios Com discos ventilados na dianteira 6
Direção Hidráulica, mas com calibragem pesada para não prejudicar a estabilidade 5
Estabilidade Aceitável nos pisos regulares. Nos outros é ruim e até perigosa 4
Estilo Típico dos veículos americanos, é pesado mas agrada 5
Conforto Há muito espaço interno, mas falta a opção das quatro portas 4
Posição de dirigir É alta, dando sensação de segurança e bem-estar 6
Instrumentos Suficientes na quantidade e bem iluminados à noite 6
Visibilidade Boa. A área envidraçada é grande, e não há pontos cegos 7
Nível de ruído Poderia ser menor, se a relação de transmissão fosse mais longa 3
Porta-malas Mais do que suficiente para a capacidade de passageiros. O acesso é bom  10 

* Nota do webmaster: na época de edição da reportagem, a 4Rodas ainda não utilizava a pista circular da GM para testes de velocidade máxima.
Fonte: Revista Quatro Rodas, ano 30, nº 12, 1989

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