REPORTAGENS


ARMADILHAS DO DIESEL

A nova versão da Veraneio mostra que a economia custa muito barulho e péssimo desempenho.

Heymar Lopes Nunes

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As vantagens são tão grandes que a GM não teve dúvidas. Primeiro, o diesel custa bem menos do que os outros combustíveis. Depois, automóveis com esse tipo de motor rodam muito mais quilômetros por litro. Aparentemente, tanta economia é um apelo irresistível do novo lançamento da fábrica, a versão a diesel da Veraneio. Mas, cuidado, uma avaliação apressada pode custar caro.

Ninguém discute o lado bom do diesel. No confronto com a gasolina, por exemplo, a diferença é tentadora: Cr$ 67,00 contra Cr$ 138,00 por litro (preços de março). A situação melhora quando se descobre que a Veraneio diesel fez na estrada 12,46 km/l, mais que o dobro dos 6,02 km/l alcançados pela sua irmã a gasolina.

Foi por isso que a GM comemorou tanto, no ano passado, a mudança da legislação que permitiu o lançamento da nova versão. Antes o uso do motor diesel só era aprovado para veículos com capacidade mínima de carga de 1.000 kg e cuja caçamba fosse isolada da cabine do motorista. Esse último item caiu no governo Collor e a fábrica passou a preparar o modelo diesel que se juntaria às Veraneio gasolina e álcool.

Agora, vamos ao lado ruim do diesel. Os problemas começam na queda do desempenho. A nova Veraneio gastou 35,87 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h. Já a versão a gasolina não passou de 21,37 segundos — uma diferença de 68%. O abismo se repete na velocidade máxima: 123,6 km/h contra 141,9 km/h.

Outra dor de cabeça está no barulho, mais um inconveniente provocado pelo motor diesel 3.8, também usado na picape D-20. Até em velocidades baixas, só se consegue conversar aos gritos. É a única maneira de superar a péssima média de ruídos de 73,88 decibéis. Numa viagem longa, isso significa irritação na certa para todos os passageiros.

Enervante mesmo é o descaso da GM em certos detalhes. A alavanca do freio de estacionamento das outras Veraneio foi substituída, no modelo diesel, por um pedal extra e um botão que destrava o sistema. O pedal, tudo bem, está ao lado da embreagem. Mas e o tal botão? O Manual do Proprietário não diz nada! Só o bom senso mecânico nos fez descobrir a resposta. Como motor diesel não precisa de afogador, aquele comando ficava sobrando no painel. Lá estava a solução.

Nem a economia proporcionada pelo diesel está livre de críticas. Não haveria discussão se os preços dos dois modelos fossem iguais. Mas a nova Veraneio custa Cr$ 8.500.000,00 e a versão a gasolina Cr$ 7.155.000,00. A diferença de Cr$ 1.345.000,00 é suficiente para rodar quase 59.000 km com a Veraneio a gasolina. Quem costuma dirigir pouco vai demorar muito até recuperar o investimento inicial a mais.

Apesar dos aspectos negativos, não se deve condenar esta Veraneio. O modelo mantém muitas das qualidades de suas companheiras. É equipado com ar-condicionado, vidros elétricos, trava central das portas, banco traseiro bipartido, limpador/lavador do vidro traseiro e espelhos retrovisores com controle elétrico.

Dirigir a Veraneio, apesar dos 5,34 m de comprimento, não é difícil. Como o motorista fica numa posição bem mais alta do que os de carros normais, a visibilidade frontal e lateral é bem melhor. E, com a ajuda da direção hidráulica, pode-se manobrar no trânsito urbano tranqüilamente.

Para completar a lista de elogios, a suspensão macia não permite que a maioria das irregularidades do terreno chegue até o motorista. Já a estabilidade nas curvas é surpreendente num veículo tão pesado (2.430 kg) e alto (1,80 m). E, voltando ao diesel, o tanque de 88 litros desta Veraneio permite uma autonomia de quase 1.100 km (contra apenas 530 km do modelo a gasolina). O difícil é suportar tanta estrada enfrentando um desempenho sofrível e o barulho infernal.

A disputa entre duas versões

  DIESEL GASOLINA
Preço Cr$ 8.500.000 Cr$ 7.155.000
Consumo 12,46 km/l 6,02 km/l
Gasto com combustível em 1.000 km Cr$ 5.380,00 Cr$ 22.920,00
Aceleração de 0 a 100 km/h 35,87 s 21,37 s
Velocidade máxima 123,6 km/h 141,9 km/h
Nível de ruído 59 dB 49,6 dB

Fonte: Quatro Rodas, Ano 31, Nº 369, Abril/1991
Reportagem gentilmente enviada por Fernando Figueiredo

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