REPORTAGENS


A20 Custom Cabine Dupla
NOVA A-20, PARA ACABAR COM O APERTO

Dentro e fora, espaço é o forte da nova picape da GM, que agrada também pelo bom acabamento, baixo nível de ruído e razoável desempenho.

Reportagem de Luiz Bartolomais Junior / Fotos de Claudio Larangeira

Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar
Clique aqui para ampliar

Quem vê pela primeira vez, com suas amplas quatro portas e um incrível espaço para seis pessoas, é tentado a encarar a A-20 Custom como um automóvel, um veículo de passeio. Não é verdade. Para isso, ainda falta muita coisa. Por exemplo: quem se atrever a viajar sem ter antes providenciado uma capota para a caçamba pode passar pelo dissabor de ter a bagagem molhada por uma chuva repentina.

Isso porque a nova picape da General Motors não traz, de fábrica, nenhum compartimento abrigado para a bagagem. Quem quiser que mande instalá-lo por sua conta. Além disso, faltam travas de segurança para crianças nas portas traseiras e apoios para a cabeça nos bancos.

Sem essas preocupações de lazer e sofisticação, ela cumpre plenamente seus objetivos. A A-20 Custom transporta seis pessoas ou até 1.024 kg de carga, sendo indicada principalmente para áreas rurais e terrenos de difícil acesso. Nesse aspecto, aliás, a nova A- 20 Custom da GM ficará ainda mais completa até setembro, quando receberá como opcional um diferencial autoblocante, de grande utilidade na lama ou na areia.

Não é um sistema tão perfeito e eficiente como a tração nas quatro rodas, mas é o mais econômico e coerente com a maior parte das solicitações que uma picape, como a A-20, vai enfrentar. Aliás, quem quiser fazer dela um off-road encontrará todos os equipamentos necessários para isso nas transformadoras de picapes e lojas especializadas, desde pneus especiais até tração nas quatro rodas.

A nova cabine dupla da GM pode ser comprada com três opções de motor: álcool, gasolina (produzida sob encomenda, para alguns frotistas) e diesel. As versões álcool e gasolina utilizam o conhecido motor 250 da GM, de seis cilindros em linha, que equipa o Opala, e um câmbio de quatro marchas. A versão diesel usa um motor de quatro cilindros em linha, com câmbio de cinco marchas.

Antes da escolha é conveniente se confrontar o preço do combustível — o diesel custa menos que o álcool — com outros fatores, como o preço do carro, as condições de utilização e — por que não? — o nível de ruído.

Segundo a GM, só quem rodar no mínimo 9.000 km mensais terá vantagem comprando o modelo a diesel. Abaixo dessa quilometragem, a melhor opção ainda seria o motor a álcool, devido à diferença inicial de preço entre os dois modelos: Cz$ 144.354,00 a álcool contra Cz$ 202.666,00 a diesel.

Além disso, o nível de ruído do motor a álcool é muito mais baixo e sua velocidade máxima e aceleração bem melhores. A rigor, seu único inconveniente é a menor autonomia: não mais de 400 km rodando a 80 km/h. Contudo, isso já não preocupa tanto em função do funcionamento dos postos nos fins de semana e durante a noite.

Os dados de consumo obtidos em nosso teste – estrada, a 80 km/h, carregada, 4,59 km/l, e vazia, 5,49 km/l; cidade, vazia, 3,76 km/l, e carregada, 3,38 km/l -, embora pareçam elevados, são coerentes com os 2.040 kg do veículo testado. Recentemente, no teste da picape F-1000 A, também a álcool, os resultados de consumo tinham sido semelhantes: em estrada, a 80 km/h, carregada, 4,89 km/l, vazia, 5,53 km/l; na cidade, carregada, 3,60 km/l, e vazia, 3,96 km/l.

Com 190 kg a mais que a F-1000 A, a A-20 de cabine dupla foi também mais veloz: fez 142,857 km/h, contra 135,849 km/h da picape da Ford. Explica-se essa vantagem pelos 473 cm3 de cilindrada a mais no motor e por uma melhor aerodinâmica.

Dirigir essa picape é uma operação simples e agradável, embora seu comprimento, de 5,34 m, dificulte um pouco as manobras em ruas estreitas e em balizas. A A-20 dupla poderia ser mais curta, como eram as cabines duplas de até pouco tempo. A opção da GM por uma caçamba mais comprida, com 1,59 m, onde fosse possível colocar mais carga, porém, foi proposital: assim ela pode disputar um segmento mais amplo do mercado. Para superar esse inconveniente, quem comprar a A-20 para passear não pode dispensar a direção hidráulica, um opcional de aproximadamente Cz$ 4.000,00.

Em outros aspectos, a A-20 é muito confortável. Nessa cabine dupla, a preocupação com o conforto dos passageiros nasceu desde o projeto. Sua caçamba, por exemplo, é uma peça integral, totalmente independente e desligada da cabine, ao contrário das outras picapes. Com isso, as movimentações torsionais da caçamba, decorrentes de pisos irregulares e buracos, não se transmitem ao compartimento de passageiros.

O baixo nível de ruído interno também é um dos seus pontos altos. Surpreendentemente, a 80 km/h, a A-20 Custom apresentou apenas 71 dB, o que é menos que o do próprio Chevette da GM. A participação do álcool nisso é evidente, pois a D-20 Custom, cabine simples, a diesel, tinha atingido 73,9 dB. Em ponto morto, o ruído interno da A-20 Custom também foi mínimo: 48,6 dB, menor inclusive que o do Monza SL/E.

Outra característica que aumenta o conforto da A-20 é a distância entre eixos, maior do que a da cabine simples — o que proporciona uma melhor absorção dos solavancos. Comparando, é como viajar de ônibus num banco sobre um dos eixos, recebendo todos os solavancos, ou sentar-se no meio do ônibus, quase sem trepidação.

A A-20 cabine dupla também tem boa estabilidade, suficiente para não causar maiores surpresas em situações de emergência. A maior distância entre eixos prejudica levemente sua estabilidade em curvas, mas um motorista comum quase não percebe a diferença. Além disso, seu maior compromisso é com a robustez do conjunto, e nisso ela é realmente eficiente, inclusive por utilizar um conjunto mecânico já suficientemente testado.

Com carga total, o deslocamento do centro de gravidade para trás desequilibra um pouco o conjunto, mas também sem causar maiores preocupações. As frenagens são bastante seguras. Só é preciso certo cuidado nas situações de emergência: como toda picape, a A-20 é alta, e seu molejo tem curso muito longo, o que pode desequilibrá-la numa frenagem mais forte alterando sua trajetória.

A visibilidade é regular para a frente (o capô do motor é alto), boa para os lados e ruim para trás, pois a caçamba longa dificulta a visibilidade do solo. Por isso, as manobras de ré devem ser feitas com mais cuidado. O painel é envolvente e bonito, quase completo. Faltam voltímetro e marcador de pressão do óleo. Em compensação, o conta-giros é grande e está localizado na região de melhor visibilidade do painel. Já as luzes-testemunhas ficam parcialmente encobertas pelo volante.

A cabine dupla é construída e montada para a GM pela Brasinca, antiga fabricante do Brasinca 4200 GT, um esportivo brasileiro com mecânica Chevrolet de seis cilindros lançado no Salão do Automóvel de 1964. De lá para cá, a Brasinca mudou muito. É ela quem faz, por exemplo, a carroceria da Saveiro da VW, e as cabines dos caminhões Volvo e Scania.

O projeto da cabine da A-20 foi desenvolvido pela própria Brasinca, com apoio da engenharia da GM. A GM fornece o veículo montado: motor, chassi, câmbio, suspensão e lataria dianteira sem pintura, na chapa de aço, até a altura do pára-brisa. A partir daí, começa o trabalho da Brasinca, que usa prensas e ferramental próprios para produzir todo o restante, que pesa cerca de 100 kg a mais do que a picape original. O trabalho termina com a pintura geral do veículo, que pode ser em até duas cores, no caso do modelo Custom.

RESULTADOS
Desempenho Muito bom para um veículo de duas toneladas: 142 .857 km/h de velocidade máxima, vazio, e apenas 7km/h a menos quando totalmente carregado.
Consumo Vazio, a 80 km/h, fez 5,49 km/l. Carregado, fez 4,59 km/l. É o dobro do gasto de combustível de um carro como o Chevette, que pesa 930 kg.
Motor É o mesmo de seis cilindros em linha e 4093 cm3 cilindrada, já usado em caminhões e nos Opala. Foi surpreendentemente silencioso neste teste.
Transmissão e câmbio Engates fáceis. Construção robusta e a toda prova. Curso da alavanca de câmbio longo, mas adequado a um utilitário.
Freios De duplo circuito, param com facilidade, mesmo considerando a maior distância entre eixos. Só é preciso ter certo cuidado em emergências.
Direção Perfeita enquanto hidráulica, que deveria ser de série nesse tipo de veículo. Volante de bom tamanho.
Estabilidade Boa em circunstâncias normais, acaba prejudicada com carga total, em função do deslocamento do centro de gravidade para trás.
Suspensão Seu maior compromisso é com a resistência, para poder enfrentar condições severas de trabalho. Mesmo assim é suave e confortável.
Estilo Perdeu um pouco de seu conjunto, em função da caçamba muito comprida. Mas ainda faz parte da família de picapes mais modernas do Brasil. Presta-se muito bem a transformações.
Conforto Espaço para seis pessoas, e até para mais duas crianças. A ventilação melhora muito com o teto basculante acionado. Nível de ruído baixo, semelhante ao de um automóvel.
Posição do motorista Na versão Custom, testada, o banco do motorista é separado, o que facilita a regulagem e o encontro da melhor posição.
Instrumentos Instalados num painel envolvente, de estilo agradável, estão bem posicionados. Faltam manômetro de óleo e voltímetro. As luzes-testemunhas, no entanto, ficam encobertas pelo volante.
Visibilidade O capô dianteiro, alto, prejudica um pouco a visão para a frente. O mesmo acontece na traseira com a caçamba mais comprida. Para os lados não há problema.
Nível de ruído Surpreendentemente baixo para um utilitário. Chega a ser menor, em marcha lenta, que o do Monza SL/E, e muito menor, claro, que a diesel.
Porta-malas Na caçamba cabem 1.441 litros e o limite de carga, incluindo os passageiros, é de 1.020 kg. O piso da caçamba é de madeira.


FICHA TÉCNICA
Motor Dianteiro, longitudinal, de seis cilindros em linha, quatro tempos, refrigerado a água. Comando de válvulas lateral acionado por engrenagens: válvulas de admissão e escapamento no cabeçote. Alimentação por um carburador de corpo duplo e fluxo descendente; a álcool.
Diametro x curso 98,4 x 89,7 mm
Cilindrada total 4.093 cm3
Taxa de compressão 10,0:1
Potência máxima 135,0 cv (99,0 kW) ABNT a 4.000 rpm
Torque máximo 30,0 mkgf (295,0 kW) ABNT a 2.000 rpm
Relações de marcha 1ª) 4,22:1; 2ª) 2,36:1; 3ª) 1,47:1; 4ª) 1,00:1; ré) 3,99:1. Tração traseira.
Carroceria Picape cabine dupla, quatro portas, seis lugares.
Suspensão dianteira Independente, com braços triangulares inferiores e superiores, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos.
Suspensão traseira Eixo rígido, com molas semi-elípticas e amortecedores hidráulicos telescópicos.
Freios A disco nas rodas dianteiras e a tambor nas rodas traseiras, com servo.
Direção Mecânica, de rosca-sem-fim e rolete. Diâmetro do volante, 41 cm.
Dimensões externas Comprimento, 534,0 cm; largura, 200,0 cm; altura, 178,0 cm; distância entre eixos, 323,0 cm; bitola dianteira, 164,0 cm; bitola traseira, 160,0 cm.
Rodas Aro 16 x tala 6 pol.
Pneus 7,00 - 16/8L
Capacidade do tanque 88l
Caçamba 1.441 litros
Capacidade de carga 1.020 kg
Peso modelo testado 1.040 kg

Fonte: Quatro Rodas, Ano 26, Nº 310, Maio/1986
Reportagem gentilmente enviada por Fernando Figueiredo

Voltar